Alguém tinha deixado a torneira aberta. O dono da casa nunca mais voltou, sabe-se lá por onde andaria.
Por fim, aconteceu que a água, ao acumular-se, transbordar, derramar-se por todo o lado, fez nascer um homem, um homem alto, azul, transparente e cristalino.
Já anda pelas livrarias a segunda edição de um livro que nos apaixonou aquando da sua primeira edição pela Kalandraka, em 2009. Com texto do italiano Ovo Rosati e ilustrações de Gabriel Pacheco, de quem somos admiradores confessos, O Homem de Água é um livro de extrema e singular beleza.
Um hino à diferença, entoado através das sucessivas e absurdas reacções de intolerância de que aquela é, em regra, geradora.
- Só que não pode andar por aí a molhar tudo, é ilegal!
- Chamem a polícia - gritavam as pessoas -, lá vai esse, que é feito de água, e que anda por aí a salpicar tudo.
- Tape-se - diziam-lhe-, vista-se, tente congelar-se, talvez assim se torne uma pessoa normal.
Uma história marcada, a um tempo, pelo contraste do azul de que é feito o homem de água, pela pureza e pela transparência que simboliza. A outro, pela intransigência e pelo medo que vai despoletando.
A poesia do texto é enaltecida, a cada dupla página, pelas maravilhosas e singulares ilustrações de Pacheco, num livro que é, certamente, um dos seus trabalhos mais conseguidos.
Esguia, alta, elegante, cristalina... a figura do homem feito de água vai conquistando os que com ele se cruzam tal como já conquistou o coração dos leitores. A generosidade e o desinteresse das suas acções acabam por falar mais alto junto de todos os que vai ajudando. As crianças desbravam caminho.
A seu tempo finalista dos prémios Andersen, este é um livro para beber avidamente a cada gota de azul. Ficamos felizes com o seu regresso!
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