terça-feira, 22 de setembro de 2015

À espera de Isol

Chegam sem manual de instruções e nem sempre os entendemos à primeira... Há alturas em que se nos afiguram quebra-cabeças de difícil resolução. Falamos de bebés! 


Nascido da sua própria experiência da maternidade, o último livro da argentina Isol é uma espécie de guia, onde a autora disseca, com sublimes doses de humor, esse misterioso ser"Le bibou", edição francesa do título original "El menino" traduz, ao longo de sessenta páginas, uma deslumbrante e genuína criatividade.


A abordagem é feita a duas vozes, reflectindo as reações dos adultos e também as do pequeno e estranho ser que, de repente, surge nas nossas vidas, mudando-as radicalmente. A chegada do bebé, que desembarca nu e aos gritos, anunciando-se ao mundo, é o grande acontecimento.



As interrogações são muitas. As dúvidas também. De onde vem o bebé, será que ele sabia para onde vinha quando iniciou a sua viagem ou terá chegado a nossa casa por mero acaso?


A única certeza que temos é que o recém-chegado não se faz acompanhar de manual de instruções. Por sorte, vem equipado com vários apetrechos que, com o decurso dos dias, vamos aprendendo a conhecer e a manusear. Estes são, apenas, alguns exemplos: 


Uma poderosa sirene que alerta quando ele tem falta de alguma coisa. O seu funcionamento tanto pode indiciar que é necessário dar-lhe de comer, como adormecê-lo, tratar-lhe da higiene, ou brincar com ele e acarinhá-lo. Divertido mesmo, é tentar adivinhar a resposta certa cada vez que o alarme toca.


Uma válvula situada na parte inferior da cara, que utiliza para mamar, evidenciando fome várias vezes ao dia. Na parte superior, localizam-se duas janelas, com diversas utilidades e entre elas e a válvula, dois buracos que são túneis por onde entra e sai o ar. De cada lado da cabeça, situa-se uma protuberância em forma de caracol que, apesar de poderem confundir-se com duas alças são radares sônicos  de grande complexidade.


O imaginativo estudo anatómico deste ser totalmente articulado prolonga-se por várias páginas, numa brilhante e magistral composição gráfica.



Com requintada subtileza , Isol vai pondo em evidência a intensidade da presença do bebé, a mudança de hábitos que introduz na vida dos que o recebem, a forma como nos rendemos a estas criaturas, passando a vivenciar , com grande naturalidade, situações, no mínimo, bizarras.


De forma hilariante, a autora exemplifica como os pais fazem figas para que  a Boa Fada do Cocó, que visita habitualmente o bebé, não se esqueça de passar lá por casa... E relembra essa espécie de amnésia de que somos atacados e que nos impede de lembrar como era a vida antes da sua chegada. 


Sim, rendemo-nos ao menino de Isol! Esse ser misterioso, que traz um nó parecido com o de um balão, que reflecte as nossas emoções como um espelho, que fala uma língua totalmente diferente, que acredita poder ser invisível, e que um dia descobre que as pessoas grandes que o cercam também já foram bebés.


A aparente simplicidade dos bonecos de linhas direitas, desenhados no que parece ser papel kraft (totalmente reciclado e biodegradável), o imaginativo e deslumbrante jogo de linhas e cores, onde sobressai o traço a caneta, retratam de forma única a essência do pequeno ser. Um fabuloso livro para leitores dos 0 aos 100!


Vencedora do prémio ALMA em 2013, Isol conta já com mais de duas dezenas de livros editados. O fascínio que sentimos pela sua obra faz-nos acreditar que não demorará muito mais a chegar a Portugal.

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