Com texto de Henriqueta Cristina e ilustrações de Yara Kono, a história, baseada em factos reais, conta o percurso de uma família que, no final dos anos 60, decide deixar para trás um Portugal asfixiado pela ditadura e partir em busca de um lugar livre para viver.
A filha, que agora nos conta a história, tinha apenas oito anos e guarda a memória de um país com muito sol, mas onde poucos meninos iam à escola. Os pais viviam de testa franzida e um dia, depois de ouvir a palavra "exílio", partiram.
No novo país, muito arrumado e organizado, todos os meninos iam à escola. A ruga da testa do pai até desapareceu. Mas por pouco tempo. A mãe, que sabia tudo de malha, estranhou que nas lojas só se vendessem camisolas de três cores. Cinzentas, verdes e cor de laranja.
Enquanto observavam os meninos que iam para a escola, as rugas voltaram. "Parecem um exército a marchar nos seus uniformes" - sussurrou a minha mãe ao meu pai.
A cidade foi ficando cada vez mais cinzenta. O Inverno arrastava-se frio, longo e triste. Como a monotonia das cores. As mesmas cores, sempre as mesmas cores e as mesmas formas...
As saudades do sol, dos avós e dos amigos pesavam.
Mas as rugas voltariam a desaparecer quando a mãe, lançando mão dos três novelos e das mesmas cores, sempre as mesmas cores, desencadeou uma pequena revolução.
Agulha-vai, agulha-vem...No vaivém das agulhas, a liberdade de mudar invadiu a cidade.
Agulha-vai, agulha-vem...No vaivém das agulhas, a liberdade de mudar invadiu a cidade.
A mesma liberdade que parece percorrer, igualmente, as ilustrações de Yara Kono. É fabulosa a forma como, com as mesmas cores, sempre com as mesmas cores, a ilustradora nos mostra a revolução das cores vivida na cidade.
Uma criativa e genial forma de tratar um tema que, parecendo tão distante, nos lembra coisas de todos os dias. Talvez por isso, acabámos a leitura, acompanhados pelo Sérgio Godinho:
Só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir...
Só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir...
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