É uma das características mais apaixonantes da literatura infantil: o livro reinventa-se todos os dias. Vir ao mundo, de Emma Giuliani, editado pela Edicare, é um bom exemplo disso.
Poético e belo. Delicado e resistente. Pela voz das flores, o ciclo da vida vai acontecendo a cada folha que abrimos em forma de harmónio.
Num fundo preto e branco, as flores encontram-se ocultas graças à técnica das formas pop-up. Cabe-nos a nós tocar-lhes, abri-las, descobrir-lhes as cores. Ou não. Afinal, como na vida.
Reconciliar os amigos, declarar o amor, coroar as crianças ou dizer um último adeus... As palavras são poucas mas revelam uma imensidão. Da aliança entre elas, as imagens e o próprio design do livro, surge a revelação dos diversos estágios da vida. Lembrando-nos que, à semelhança da minúscula joaninha que atravessa todo o livro, somos seres actuantes. Ou não.
Numa sessão de leitura com jovens de 13 e 14 anos mostrámos o livro. No final, observámos que um deles ficara para trás, que apertava o livro contra o peito e chorava. Expunha a sua fragilidade por uma perda a que resiste todos os dias. Não conseguimos imaginar um mundo sem livros. Mas por uma razão ou por outra, continua a angustiar-nos pensar em todas as crianças que não os têm e que nunca conseguirão encontrar-se neles.
Aqui, o livro reinventa-se todos os dias. E fazem-se revoluções! Os cabecilhas? Procurem por entre toda esta multidão! Nós encontrámos alguma gente conhecida, nomeadamente, a Isabel Minhós Martins e o Bernardo Carvalho, autores deste livro, editado pelo Planeta Tangerina.
Mas isso não constituirá propriamente uma novidade. Revolucionar talvez seja o verbo que melhor define o papel daquele Planeta no universo infantil.
Daqui Ninguém Passa! É a história de uma revolução, mas também a revolução do próprio livro. É uma brincadeira magnífica, hilariantemente conseguida, que nos faz querer participar!
A partir de agora vai ser assim, não percam o vosso latim. Quem o diz é o general Alcazar, um homenzinho prepotente, que se julga dono do livro e ambiciona ser o herói da história.
Não, não é um valentão! Muito menos um corajoso! Munido de um exército de guardas, o homem limita-se a impôr proibições. A página da direita está-lhe reservada!
Mas, como diz a Isabel, este livro é de todos e se há revoluções que se fazem com cravos, outras há que se fazem com bolas... Certo é que a história parece reservar algumas surpresas ao dito general!
Como tudo isto acaba é algo que terão de descobrir. Nós já sabemos. Porque andámos no meio da multidão, ouvimos os desabafos de muita gente, detectámos coincidências e escolhemos os nossos heróis! Enfim, participámos na revolução.
Talvez por isso nos falte agora tempo para elencar todos os livros de que gostámos em 2014. Mas se nos pedissem para eleger um, diríamos... Daqui Ninguém Passa!
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