Por vezes, carregamos nas mãos livros que não se conseguem arrumar na prateleira. Vivem em constante rebuliço, para cá e para lá. Pedem novas leituras, desafiam a nossa perspicácia, obrigam-nos a procurar novos detalhes.
Ocupam lugares improváveis, abrem-se sozinhos nos cantos mais recônditos da casa, chamam por nós.
Tentamos impingi-los a todos os nossos amigos.
A Invenção de Hugo Cabret é um desses livros.
Hugo vive escondido numa estação de comboios. Apaixonado pelo funcionamento de máquinas, Hugo mantém todos os gigantescos relógios a funcionar na perfeição. Na tentativa de esconder um segredo, vive no anonimato. Ao cruzar-se com o dono de uma loja de brinquedos e a sua afilhada, a sua vida muda completamente. Um desenho e um caderno misterioso, um autómato e uma chave dão o mote para esta narrativa que se traduz numa bela aventura vivida pelos dois jovens amigos.
O livro faz referência explícita a Georges Méliès, factor de acrescido interesse. A perfeição do traço de Brian Selznick transporta-nos para um mundo quase fotográfico de Paris e dos seus pequenos recantos. O jogo entre os planos de pormenor e os grandes planos enriquece a obra de uma forma surpreendente.
As ilustrações acompanham o texto em paralelo, mas criam um mundo tão singular que poderiam viver de forma independente. Vários momentos da narrativa são dados ao leitor através de imagens, sempre a preto e branco, com efeitos luminosos e sombrios inacreditáveis.
Paramos para admirar momentos provocatórios, um olhar, um toque, uma emoção.
A Invenção de Hugo Cabret, mais do que fotográfica, dá-nos uma visão cinematográfica da história. O livro permite uma abordagem mais visual e menos descritiva, e inova por isso. Ao estilo de um storyboard, a obra pedia urgentemente uma adaptação ao cinema.
E foi o que aconteceu, pelas mãos do inigualável Martin Scorsese. Hugo, o filme, estreou em 2011 e concorre como grande favorito aos Óscares 2012. Hugo é o candidato com mais nomeações (11) na edição deste ano do galardão mais desejado do mundo cinematográfico.
Congratulamo-nos com o sucesso de Hugo e aguardamos ansiosamente a sua estreia em Portugal. Vejam aqui o trailer. É incrível a semelhança das personagens com os actores seleccionados. Mas não esqueçam: leiam primeiro o livro.
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