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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

A Água e a Águia


Não se escreve para crianças. Teremos, apenas, idade para viver em história.
As palavras são de Mia Couto e voltam-nos à memória a cada nova história. A Água e a Águia, o mais recente livro do escritor, surge como uma fábula que pode ser habitada por todos, independentemente da idade.


O começo da história incita o leitor a uma viagem pelo tempo. Os mais pequenos enchem-se de interrogações à primeira frase.  Aconteceu quando ainda não era vez nenhuma.
Num tempo em que as águias eram donas do mundo e o bater das suas asas era o único ponteiro do tempo.


Numa doce toada, um texto poético conta como o voo das águias fazia ondear a água, enquanto o rio disputava o reino dos pássaros. A água é um elemento recorrente nos livros de Mia Couto. Esta não é a primeira história onde a chuva se esquece de acontecer.
Sem chuva, o rio acabou por emagrecer. Chegaram as doenças, a morte, a tristeza... 
As águias souberam que tinham de fazer alguma coisa. Primeiro, começaram por comer o i do seu próprio nome e a palavra águia transformou-se em água. Depois... depois as águias e as letras chamaram a si a solução do problema.



As ilustrações têm a assinatura de  Danuta Wojciechowska, sendo esta uma parceria que os leitores já conhecem bem. Para trás estão O Beijo da PalavrinhaO Gato e o EscuroA Chuva Pasmada, que podem ver aqui, O Menino no Sapatinho, todos publicados pela editora Caminho.
Com uma paleta de cores quentes e fortes, a ilustradora confere seu cunho inconfundível às palavras do escritor. Palavra e imagem parecem unir-se num jogo de movimento e cor, voando a um só tempo.


A nossa sugestão é que vivam na história. Uma ou muitas vezes. Contem às crianças que a Terra aprendeu a ler muito antes de nascer o primeiro livro. Falem-lhes sobre a caligrafia da Vida.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Mia Couto


Mia Couto foi o vencedor do Prémio Camões 2013 e ninguém pasmou com o acontecimento! Merecido é o adjectivo mais utilizado por todos aqueles que, de alguma forma, se associaram ao prémio recebido pelo escritor moçambicano.


Muitos dizem que é um inventor de palavras. Para nós, será sempre um brincador que, com elevada dose de paixão, reinventa palavras. O blogue Letra Pequena relembra hoje que Mia Couto diz que "não se escreve para crianças. Teremos, apenas, idade para viver em história(...)." 
Os Hipopómatos gostam de pensar que as suas histórias não têm idade e que todos podemos habitá-las. 


O gato e o escuro e O Beijo da Palavrinha são, seguramente, os livros mais conhecidos  do público infantil, mas A Chuva Pasmada  é o livro de Mia Couto que sempre nos vem à cabeça quando pensamos numa história onde todos podem morar uma vez. Ou muitas.


Em entrevista concedida a Sophia Beal em 2005, o escritor dizia: "Acabei agora uma coisa chamada "A Chuva Pasmada". É um livro que começou por ser um livro infantil , mas não gosto dessa maneira de o chamar, e evoluiu para uma outra coisa. Já não é um livro para crianças, é um livro. Só que tem ilustrações. As ilustrações são muito bonitas."



Uma história passada numa aldeia onde a chuva teima em não cair, em que o ciclo da água e o da vida se fundem num só. Uma história sobre gentes, sobre a cultura de um povo, as suas lendas e mitos. Um livro, repetimos nós. Para toda a gente. As bonitas ilustrações, tal como as dos outros dois livros que mencionámos, são da Danuta Wojciechowska. 


Às vezes, a propósito de nada, repetimos  como a tia do rapaz deste livro: 
-Pai nosso, cristais no Céu, santo e ficado seja o vosso nome.


E meditamos sobre o conselho do avô:

Ante o frio,
faz com o coração
o contrário do que fazes com o corpo:
despe-o.
Quanto mais nu, mais ele encontrará
o único agasalho possível
- um outro coração.

Não têm o livro? Aproveitem e dêem um pulo  à Feira do Livro. Ele anda por lá...