Oh Não, Sebastião é o terceiro livro do premiado Chris Haughton, que chega a Portugal pela mão da Orfeu Negro. Depois do êxito de Mamã?, o livro estreia do autor, e de Boa Noite a Todos, as crianças podem agora desfrutar da companhia desse genuíno cão que é Sebastião.
Trocado para miúdos, os livros de Haughton fazem as delícias dos seus destinatários, os mais pequenos, e encantam os adultos que têm o privilégio de os ler e contar. Não admira que o autor se tenha tornado um coleccionador de prémios e de nomeações e que os seus livros se encontrem traduzidos em 27 línguas.
Simplicidade parece ser a divisa do trabalho deste autor. Texto e desenhos comungam dela, de modo inequívoco. Algo minimalistas, as formas utilizadas por Haughton aparentam, não raro, poder ter sido feitas pelos pequenos leitores. Os peculiares animais que habitam os seus livros são facilmente identificados pelos grandes e arredondados olhos que possuem. E até a paleta de cores, ainda que vibrante, não deixa de ser limitada e contida. Tudo somado é mais do que q.b. para prender os livros às mãos pequeninas que os abrem vezes sem conta.
No primeiro livro, Haughton encanta as crianças com a história do pequeno mocho que, tendo adormecido, caiu do ninho e se perdeu da sua mamã. Com a ajuda de um prestável esquilo que estava por perto, inicia-se a busca da mamã Mocho. Entre a impetuosidade do esquilo e a fraca precisão do pequenote nas descrições que faz da sua mamã, a missão acaba por revelar-se complexa. Afinal de contas, olhos grandes ou orelhas pontiagudas nem sempre são exclusivos da nossas mãe...
Os mais pequenos sabem a história de cor e salteado, imitam cada gesto do pequeno mocho na perfeição, divertindo-se com a mesma intensidade a cada vez que aqui voltam. Já seguros do grande reencontro entre filhote e mamã Mocho, reconfortados com os tributos solidários e amigos do esquilo e da rã, acham hilariantes as falhas de comunicação...
Oh Não, Sebastião! parece ter nascido, igualmente, condenado ao êxito. As semelhanças de formato, ilustração e design são inegáveis, mas as histórias são bem diferentes. O que prende, agora, as mãos e a atenção dos mais pequenos é algo bem diverso. Algo com que se identificam, com que se debatem amiúde e que os aproxima de Sebastião, o cão de quem todos ficarão amigos. Falamos de tentações...
Portas-te bem, Sebastião? É a pergunta que Raul, o dono, lhe faz no momento em que tem de sair. Uma pergunta que os adultos fazem com frequência... Verdade seja dita, a resposta também não é muito diferente da que as crianças costumam dar: "Vou portar-me lindamente". Não cabe ao leitor duvidar das boas intenções do 4 patas, mas o "espero eu" de Sebastião, logo na página seguinte, deixa no ar o que se avizinha.
Cada virar de página reserva ao simpático animal uma tentação. A primeira começa logo ali, na cozinha, onde Sebastião vê ... um bolo! Hum? Não, não queríamos estar "na pele dele", deve ser um grande conflito...
"Eu disse que ia portar-me bem, mas eu sou LOUCO por bolo".
O que fará o Sebastião é a pergunta que, perante cada tentação, é colocada aos leitores. As tentativas dos mais pequenos para adivinhar o comportamento canino são, quase sempre, hilariantes. Até porque já todos vivemos situações semelhantes. Quem não cedeu já a tentações que atire a primeira pedra... Até os adultos mais certinhos, não é? Então, porquê o espanto?
SIM! Sebastião come mesmo o bolo. TODO!
Sim, o gato também puxa por ele... E se, a esta altura, estão a pensar em mais tentações a que o Sebastião não tenha resistido, saibam que estão certos. Esgravatar é das coisas que um cão mais gosta de fazer. Não podemos dizer que o bicho não lute contra os seus impulsos ou que não tenha consciência dos seus actos. Mas o que está feito, está feito. Um cão não é de ferro.
E quando o dono chega a casa? O que fará Sebastião? O exuberante cumprimento deixa antever que sabe ser merecedor de castigo. Mas Raul também não é um dono qualquer. No final, os próprios leitores são tentados com um final em aberto...
E vocês? Resistem a correr para ir ver o que faz Sebastião? Bem nos parecia!
Pelo meio, há ainda o delicioso Boa Noite a Todos. Na floresta, numa hora em que o sol se deita e os olhos dos animais se fecham para mais uma noite, um pequeno urso resiste ao sono, tentando persuadir outros pequenotes a prolongar as brincadeiras.
Ao encanto das ilustrações junta-se o das páginas com tamanhos em crescendo, que permite ver vários cenários em simultâneo. Hora de dormir? É aqui, mas não sabemos se a criançada consegue ouvir a história até ao fim. AHHHH.....UAAA