domingo, 9 de julho de 2017
quinta-feira, 6 de julho de 2017
A Bola Amarela. Jogamos?
Há livros de outro planeta! Neste caso, do Planeta Tangerina. Em 2014, a propósito de Daqui Ninguém Passa, escrevemos: É a história de uma revolução, mas também a revolução do próprio livro. É uma brincadeira magnífica, hilariantemente conseguida, que nos faz querer participar!
Hoje, falamos de A Bola Amarela e continuamos a dizer que o livro se reinventa todos os dias. Com texto de Daniel Fehr e ilustrações de Bernardo Carvalho, o mais recente livro da colecção De Cantos Redondos do Planeta Tangerina é um livro-jogo que, com elevadas doses de diversão e originalidade, leva o leitor a calcorrear 37 páginas para trás e para a frente... para a frente e para trás. As crianças, e não só, deleitam-se com esta aventura!
Um livro é um lugar. Com dentro e fora, esquerda e direita, perto e longe, princípio e fim, diz a editora a propósito desta colecção. Aqui, o lugar começa por ser um campo de ténis e a acção desencadeia-se quando Luísa e Luís decidem fazer um jogo amigável e, imaginem, a bola acaba por escapulir-se na dobra entre as páginas!
Aos dois amigos não resta alternativa que não seja procurá-la. E os leitores? Pois, esses têm de segui-los, iniciando uma aventura que os levará a percorrer os mais diversificados e encantadores cenários. Mas não se enganem, não é fácil e a coisa exige alguma forma física. Aqui, não chega virar a página. A numeração não existe para ser seguida ordeiramente. Aqui, é preciso saltitar entre páginas, para trás e para a frente.
De pista em pista, acompanhamos os pequenos no rasto da bola. Atravessamos uma festa, onde todos conhecemos alguns dos convidados, uma savana, um campo com burros, páginas digitais que nos trazem à memória alguns videojogos e muito mais. Tudo, pela mão de Bernardo Carvalho que, com a qualidade a que já nos habituou, se socorre do desenho e da fotografia, num registo pautado pelo humor.
Uma louca viagem com passagem pelo céu e direito a conhecer um deus muito especial!
Ufa! Não!! Não descansem porque não podem perder de vista os petizes! E não se deixem enganar, bolas amarelas há muitas...
Livros em papel, interativos e digitais? Nem mais.
Subjacente à colecção, está o conceito de interactividade. Genialmente conseguida, os leitores mergulham literalmente no livro, esgueirando-se pelas dobras ou saltando pelas páginas até conseguirem enxergar a bola amarela. Mas, não se ficam por aí. É um desafio empolgante e irresistível, com um final/recomeço hilariante, feito na companhia dos dois pequenos protagonistas. Ela desfrutando, tal como os leitores, de cada página, ele resmungando com tudo e todos. Até com Deus! Até com os autores do livro! DEVEM ESTAR A GOZAR!!
Há planetas assim. Lugares onde os leitores participam, jogam, brincam, aventuram-se... dentro do livro! Pssst, os miúdos já estão a caminho do campo de ténis? Não?? DEVEM ESTAR A GOZAR!!
segunda-feira, 3 de julho de 2017
Gaston
Fifi, Xuxu, Oh-lá-lá, Gaston
São os filhos da Srª Caniche, uma mãe vaidosa e orgulhosa dos seus doces e encantadores cachorrinhos. Quatro amores perfeitos, pelo menos, à primeira vista. Porque a um segundo olhar, a que o próprio texto convida o leitor - Vamos vê-los outra vez?- é notório que não são todos iguais. Gaston é diferente, não se parece com os irmãos. E não são só as semelhanças físicas que não existem.
É sobretudo nas aprendizagens que se diferenciam. Gaston é o mais esforçado, o que mais se aplica, mas também o mais trapalhão. Não perece talhado para a etiqueta e boas maneiras, que com tanta naturalidade se praticam no seio da família.
De forma hilariante e divertida, texto e imagem mostram, algumas vezes, realidades distintas. Não menos divertidas são as subtilezas com que o leitor é brindado. Que Gaston não é um caniche salta à evidência. Mas, enquanto as ilustrações atestam a diferença de raça, até meio do livro o texto nunca a assume explicitamente.
Três já eram do tamanho de chávenas de chá. O quarto, entretanto, crescia e crescia. Parecia já um autêntico... bule de chá.
É preciso esperar pela primavera e acompanhar a Srª Caniche ao parque com os seus pequenotes para que tudo se clarifique. O encontro, no mínimo estranho, com a família Buldogue, onde Antoinette, uma pequena caniche, parece carta fora do baralho, revela o óbvio. Às mães e aos leitores. Os cachorros tinham sido trocados à nascença.
Não admira que as mães tentassem logo ali reparar o erro, dando o seu a seu dono. Gaston voltou para casa com a sua família de sangue, os Buldogues, e Antoinette regressou com a mãe biológica, a Srª Caniche, e as irmãs. Mas o que se seguiu foi...desastroso! Antoinette não se ajustava à vida esmerada e cor-de rosa das irmãs. Gaston, por seu lado, não apreciava as confusões e a chinfrineira que pautavam o dia a dia dos irmãos. E também não morria de amores pelo castanho!
Rapidamente, o equívoco foi desfeito e ambos os cachorros voltaram às "famílias de adopção", onde eram felizes. Continuaram a encontrar-se e a partilhar experiências. Os buldogues ensinaram os caniches a ser menos queridos e estes ensinaram os buldogues a ser menos brutos. Gaston e Antoinette cresceram... apaixonados. Casaram e ensinaram os filhos a ser o que bem quisessem.
De forma alegre e empolgante, a história mostra-nos que numa família, mais do que os laços de sangue, o importante é o amor. Gaston encanta os leitores graúdos e faz as delícias dos mais pequenos, tornando-se uma excelente companhia para férias.
Com texto de Kelly Dipucchio e ilustrações do premiado Christian Robinson, Gaston foi recentemente trazido para Portugal pela Orfeu Negro. Há cerca de dois anos, tínhamos tido a sorte de nos cruzar com ele em Berlim, na fantástica livraria Mundo Azul. Não nos separámos mais deste livro delicioso, onde palavras e imagens se casam num grafismo charmoso e irresistivelmente divertido.
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