As palavras do poeta fervilham-nos na cabeça. Espreitamos o outro lado do muro. Curiosos, queremos ver, ouvir, sentir... as outras coisas que todas as coisas são. Começámos pelo princípio.
João Pedro Mésseder escreve que este é o seu primeiro livro (sem ser) de poesia. Porque tudo é sempre outra coisa, é a poesia das duas linguagens, textual e imagética, que nos faz permanecer no muro. Imaginando.
Somos fãs do trabalho de Rachel Caiano. Gostamos muito dos seus meninos de carvão, da pureza que emana dos seus rostos, do olhar doce e penetrante que nos fascina ao ponto de lhes querer dar vida, de os imaginar a correr por ruas largas e calmas, sem saída.
É como diz o próprio João Pedro Mésseder: Os pintores roubam a beleza do mundo - embora eles digam que não, que lhes vem tudo da cabeça. Mas a verdade também é que o mundo não chega a perder essa beleza. Parece é que os pintores a multiplicam nos seus quadros. Talvez por isso, são os únicos ladrões que ninguém se importa que andem por aí, em liberdade.
Qual manta de retalhos, o poeta solta o pensamento pelas páginas do livro. Tentamos acompanhá-lo. Escutamos a memória desse menino poeta, que ainda não sabia o que era um poema, vemos os cachecóis que, na primavera, emigram para países mais ao norte, as barrigas dos egoístas que crescem para dentro, comprimindo-lhes o coração, ou a bandeira pendurada no mastro, que em dias sem vento, é como um avô adormecido no seu sofá...
Voltamos a espreitar o lado de lá do muro. Aquilo que parecia uma manta de retalhos é agora outra coisa. O livro é também companheiro de todos os dias, unindo Hipopómatos grandes e pequenos à volta de questões como esta:
Será que os corrimões das escadas também se cansam menos a descer do que a subir?
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