Delicado, intenso e belo. Tudo o que quase intuímos só de olhar para a sobrecapa do último livro da canadiana Julie Morstad, how to.
Quando o abrimos, revela-se uma ode à infância e ao que ela representa de mais genuíno e maravilhoso. Entrar pelo livro é abrir as portas de um imenso espaço onde as crianças podem correr, saltar, imaginar, sentir o vento, tocar a chuva, encontrar-se...Um espaço onde, individual ou colectivamente, podem vivenciar emoções e partilhar sentimentos.
Acima de tudo, um espaço para serem felizes. Para descobrirem ou reinventarem formas de o ser. How to é um livro onde as crianças se limitam a ser crianças. É isso que lhe confere a autenticidade e a singularidade de um grande livro.
Partindo sempre da mesma premissa, how to, a autora ilustra com delicadeza e elegância algumas formas possíveis de obter o resultado que sempre equaciona em frases curtas. O resto parece ser deixado à imaginação das crianças que tiverem o privilégio de ali entrar.
O livro começa com "how to go fast". Como se assistíssemos a uma parada, oito rapazes e raparigas desfilam exibindo a diversidade de escolhas: trotinete, andas, cavalitas, asas de borboleta... Todas, convergindo para a mesma finalidade. A subtileza de alguns pormenores, como a heterogeneidade do grupo, revela de imediato que a alegria reinante não é incompatível com uma abordagem mais profunda.
A delicadeza e elegância dos desenhos são características a que a autora já nos habituou. Mas em how to, Morstad parece atingir a perfeição.
Intercalando fundos brancos e coloridos, consoante a ilustração se distende ou não por página dupla, Julie Morstad não parece ter esquecido nada. Os planos fabulosos, com o destaque a recair sempre nos protagonistas e nas suas actividades, os padrões e roupas com que veste as "suas" crianças, a perfeita sintonia entre as cores escolhidas e as emoções evidenciadas...
O delicioso pormenor da quase invisibilidade do texto que acompanha a ilustração, em how to disappear.
Também nós leitores, vamos alternando entre o riso e a emoção. Entre coisas simples e, ao mesmo tempo, extraordinárias. Coisas de que todos nos lembramos. Muitas que ainda hoje nos fazem sorrir. Algumas, que gostaríamos de ter coragem para voltar a fazer.
Um livro que percorremos com uma certa nostalgia de uma infância passada na rua. Mas o que prevalece é a alegria trasbordante de uma infância vivida, a cada página, num cenário capaz de preencher o imaginário de pequenos e grandes leitores. As crianças, essas, sentir-se-ão em casa.
How to be happy é o final lógico e coerente. Mas nem por isso as últimas páginas e alguns detalhes com que Morstad termina o livro nos deixam de surpreender. Talvez porque nem sempre nos lembramos que, para serem felizes, só temos de as deixar ser crianças.
how to... chegará a Portugal? Não sabemos. Mas que ver os livros de Julie Morstad traduzidos entre nós, seria uma forma de be happy, seria. Alguém nos fará a vontade?
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