"As mentiras, meu rapaz, reconhecem-se logo! Porque as há de duas espécies: as mentiras que têm as pernas curtas, e as mentiras que têm o nariz comprido; a tua é precisamente das que têm o nariz comprido."
Poucos serão os contos infantis que se podem comparar a Pinóquio, tanto na forma como se transformou em património colectivo como no legado em que se materializou. Com mais de 130 anos, centenas de versões e adaptações, o boneco de madeira continua a ser senhor do nariz mais conhecido e famoso de sempre. As crianças continuam a tocar no nariz, suspeitando que possa ter crescido como o dele. No mundo dos adultos, uma longa descendência pinoquiana há muito que o transformou em personagem de todos os dias.
Inicialmente escrita em capítulos (1881), para o primeiro jornal infantil existente em Itália, o sucesso da história, que Carlo Collodi dirigiu aos pequenos leitores, levou à publicação, dois anos mais tarde, do livro As Aventuras de Pinóquio, eternizando a figura que, tendo nascido marioneta, se transformou em menino de carne e osso.
A história, que muitos rotulam de moralizante e poucos conhecerão sem ser na versão saída dos estúdios Walt Disney ou nas prolíferas adaptações light, reveste-se de uma complexidade bem maior do que o simples crescimento do nariz, sempre que a marioneta de madeira diz uma mentira.
O bem e o mal, o certo e o errado, as traquinices de quem não pensa pela sua própria cabeça (ou não fosse uma marioneta) e se deixa influenciar por tudo o que é má companhia, o gosto pelo ócio em detrimento do trabalho são apenas algumas das associações mais frequentes, relegando para segundo plano a dureza e a crueldade das experiências vividas por Pinóquio.
Apesar dos seus destinatários directos serem os leitores mais pequenos, Collodi não se coibiu de enforcar o seu protagonista, de lhe queimar os pés, de o transformar em cão de guarda acorrentado ou em burro vítima de maus-tratos, e ainda de o colocar, por um punhado de vezes, na eminência de ser barbaramente assassinado.
Com uma escrita escorreita e fluída, fábula e realidade coabitam em lugares tão imaginativos como o Campo dos Milagres, a Cidade dos Apanha-Tontos ou a Terra dos Brinquedos. Personagens inesquecíveis como o Grilo-Falante, a Fada de cabelo azul-turquesa ou o próprio Gepeto atravessam a história de mãos dadas com a fome, a miséria, ou o analfabetismo, espelhando a realidade italiana da segunda metade do séc.XIX.
À riqueza do texto de Collodi juntam-se agora a arte e a mestria das ilustrações de Roberto Innocenti, numa edição de luxo da Kalandraka. O trabalho do ilustrador italiano, de que conhecemos, entre outros, Uma Canção de Natal, A História de Erika ou A Menina de Vermelho, dispensa qualquer adjectivação.
E não, não nos cresce o nariz se afirmarmos que o realismo de Innocenti nos faz reviver cada momento da história (com 192 páginas) como se a percorrêssemos pela primeira vez.
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Com a amável colaboração da Kalandraka, um exemplar do livro As Aventuras de Pinóquio. O que precisam fazer?
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