O Pequeno Robot de Madeira e a Princesa de Lenha | Tom Gauld | Fábula
"Era uma vez" e "todos viveram felizes para sempre", assim começa e termina esta história povoada por reis, fadas, bruxas, príncipes e princesas. Pelo meio, há um sem número de aventuras que evidenciam o carácter e a coragem das personagens. E, acima de tudo, os laços profundos de amor que os unem.
Os ingredientes transportam-nos de imediato para o universo dos contos clássicos, mas um olhar mais atento diz-nos que esta é uma história do nosso tempo. Uma rainha negra e um rei branco é o primeiro sinal que o autor dá ao leitor de que a história é bem actual. Gauld delicia-nos não só com a originalidade do conto, mas também com a travessia que faz por alguns dos clássicos que preenchem o nosso imaginário.
Tudo se passa num reino encantador, onde o rei e a rainha só não são totalmente felizes porque não têm filhos. Certa noite, o rei foi falar com a inventora real e a rainha encontrou-se com a velha e sábia bruxa que vivia na floresta. Quando chegou a altura dos desejos, ambos pediram o mesmo, um filho. As mulheres não se fizeram rogadas e, usando de toda a mestria, lançaram mãos à obra. A primeira construiu um maravilhoso robot de madeira e a segunda usou toda a sua magia para dar vida a um toro de lenha e transformá-lo numa princesa perfeita. O amor entre pais e filhos nasceu de imediato. Os irmãos brincavam juntos os dias inteiros e eram felizes.
O príncipe era corajoso e gentil. A princesa era corajosa e inteligente, mas tinha um pequeno segredo. Sempre que adormecia voltava a ser apenas um tronco de madeira, tornando-se necessário que alguém a despertasse com as palavras mágicas : acorda, pedacinho de lenha, acorda. Afinal de contas era fruto da magia de uma bruxa.
O despertar da princesa era algo de que o gentil robot se encarregava todos os dias. Numa certa manhã em que o reino recebia a visita de um circo, o entusiasmo falou mais alto e o pequeno príncipe não se lembrou de acordar a irmã. Quando a criada entrou no quarto para o arrumar, deparou-se com um simples tronco de madeira na cama da princesa. Horrorizada, atirou-o pela janela. Por essa altura, já o robot, afogado em remorsos pelo seu esquecimento, voltava ao quarto da irmã. Tarde demais! Ainda avistou o tronco rolando pela íngreme colina do castelo, mas nada pôde fazer para impedir que ele fosse parar ao barco que rumava até ao Norte gelado.
São muitas as aventuras e os perigos que os dois irmãos vão viver. Sim, o Pinóquio também os experienciou, mas imagine-se o que teria sido se ele tivesse uma irmã! Enquanto o robot de madeira e a princesa de lenha faziam por merecer o seu lugar na história da literatura infantil, os reis viviam momentos de grande angústia e tristeza, tentando tudo para ter os filhos de volta. O amor e a perseverança são recompensados. Já antecipámos que, no final, tudo acaba bem. Ou não existisse na história uma velha e sábia bruxa.
Gauld, para além de ilustrador, é um conceituado cartoonista e faz aqui uso das suas técnicas. As ilustrações são fabulosas e os leitores apaixonam-se facilmente pelas personagens e pelos lugares. Segredos, magia, perigos, coragem, bondade, determinação e um final feliz. Há de tudo neste delicioso e incrível conto que, ainda que moderno, tem tudo para se tornar um clássico.