São muitas e diversificadas as ofertas existentes, destinadas a pré-leitores ou leitores primários. Contudo, não ignoramos que nem sempre essa proliferação se traduz em qualidade e que, não raro, os pais se debatem com uma imensidão de dúvidas na hora da escolha. Razões acrescidas para aplaudir a chegada de livros, cujas receitas parecem conter os ingredientes certos para contribuir para o desenvolvimento e enriquecimento dos mais pequenos.
Tirar e Pôr, da francesa Lucie Félix, é uma aposta recente da Orfeu Negro. Dinâmico e interativo, este brilhante livro-brinquedo atribui à criança o papel principal, fazendo dela o motor da história.
Através de formas geométricas e usando de uma paleta de cores vivas e alegres, o que o livro propõe à criança é uma brincadeira simples, dinâmica e interactiva. Um jogo que consiste em retirar as peças cartonadas apostas na página da direita, ficar com elas em seu poder enquanto vira a página e, uma vez aí chegada, descobrir o sítio certo para as encaixar.
Esta simples acção de retirar e encaixar, através da descoberta do sítio certo para a forma que transporta na mão, seria, por si só, suficiente para cativar o leitor/jogador. Mas cedo detectamos que ela é ainda coadjuvada por uma espécie de segundo jogo, que vai familiarizando o seu destinatário com a noção de conceitos opostos. Tirar/pôr, acender/apagar, abrir/fechar...
Como se de um puzzle se tratasse, ao encaixar a peça, a criança volta a descobrir uma outra, assentando o jogo nesta estrutura repetitiva mas sempre surpreendente no que toca aos elementos que pode encontrar ao virar da página.
A proximidade do final do livro incute-nos o secreto desejo de o adiar... Mas, contrariamente ao que temíamos, o deslumbramento da criança não termina na última página, já que ela descobre que pode voltar a jogar, agora de trás para a frente. Uma viagem de regresso que ninguém vai querer perder! Um livro merecedor da atenção de pais e educadores, susceptível de ocupar lugar, por tempo indeterminado, nas mãos mais pequeninas.
Divertido e não menos imaginativo nas diferentes leituras que proporciona, A Escada Vermelha, da autoria do espanhol Fernando Pérez Hernando e editado pela Kalandraka, é um álbum destinado a pré-leitores e também a primeiros leitores.
Era uma vez um pássaro que andava sempre com uma escada.
É este o magnífico e desconcertante inicio da história. De forma bizarra e algo absurda, a ilustração revela-nos um pássaro de ar bonacheirão transportando uma enorme escada vermelha debaixo da asa, sob o olhar atento e observador de um pequeno coelho.
Para que quer um pássaro uma escada? Essa será, obviamente, a grande interrogação do leitor adulto. Mas será assim com os pequenos leitores? De forma sequencial, a história vai dando resposta à interrogação. O nosso protagonista usa-a para subir aos telhados, às árvores, às nuvens e até, imagine-se, à lua! E utiliza-a também para descer de todos esses elevados sítios onde parece gostar de passar a vida.
Acompanhando as acções do pássaro em ambos os sentidos, ascendente e descendente, vamos assistindo a uma enumeração repetitiva que proporciona ao mesmo tempo um jogo e um desafio à memória dos mais pequenos. Paralelamente, damo-nos conta da abordagem de temas como o tamanho dos objectos ou as distâncias.
Uma história divertida e cheia de humor, com um grande contributo do pequeno e engenhoso coelho, cuja astúcia e determinação sobressaem por contraponto à ingenuidade e insegurança do pássaro. Afinal, nada que as crianças não costumem experenciar amiúde. Para que quer um pássaro uma escada? Porque complicamos nós, tantas vezes, o que é simples?
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