Quando, em Julho do ano passado, entrámos na Shakespeare and Company, Os Lápis estavam por todo o lado. Nas prateleiras, nos expositores... Sobre eles, já tínhamos lido uma parafernália de adjectivos. Genial, único, criativo, divertido... Depois de os vermos, sentimos que tudo isso era pouco. De imediato, lhes arranjámos lugar na nossa mala, como mostrámos aqui. Agora, já existem em português, graças à Orfeu Negro. Nós dizemos: Obrigado!
Um dia, na escola, ao ir buscar a sua caixa de lápis de cera, Duarte é surpreendido por um monte de cartas que lhe é dirigido. Ao abri-las, descobre que foram escritas, precisamente, pelos lápis de cera. Depara-se, então, com um rol de queixas, um descontentamento generalizado e fica a saber que os lápis não estão felizes.
As hostilidades são abertas pelo Lápis Vermelho, em forma de ultimato: Duarte, temos de falar! Queixa-se que o rapaz o faz trabalhar mais do que a todos os outros lápis. Carros de bombeiros, maçãs, morangos e todas as outras coisas vermelhas. Trabalha um ano inteiro, até nos feriados! E depois ainda vêm os pais natais e todos os corações do Dia dos Namorados. A forma como se despede é reveladora: O teu amigo estafado, Lápis Vermelho.
As reclamações sucedem-se e cada uma das cores tem as suas queixas específicas. Uns trabalham demais, outros são pouco utilizados. Há ainda os que já não aguentam tanta irritação e ameaçam perder a paciência por Duarte pintar fora das linhas...
O único que não tem razões de queixa é o Lápis Verde, mas, em contrapartida, revela a sua grande preocupação com os amigos Lápis Amarelo e Lápis Laranja que deixaram de falar um com o outro e...
Para que não subsistam dúvidas, os lápis usam os desenhos feitos pelo rapaz para exemplificarem o que dizem. É um trabalho notável de imaginação e criatividade aquele que Oliver Jeffers desenvolve ao longo do livro. Um estilo deliciosamente naif que, por momentos, nos consegue fazer acreditar que as ilustrações têm a autoria de uma criança.
As cartas são escritas à mão, numa mistura de letras maiúsculas e minúsculas, resultando num lettering que parece integrar a própria ilustração. Drew Daywalt, o autor do texto, é um premiado argumentista e realizador de cinema e de televisão, que faz aqui a sua estreia no mundo da literatura infantil. Tamanha criatividade e um humor desmedido fazem-nos esperar por mais!
O proprietário da caixa dos lápis de cera não aparece em momento algum. Mas ao longo do livro, Duarte está tão próximo que nos familiarizamos com ele a ponto de não nos surpreender a sua atitude face às queixas dos seus amigos lápis.
Tanta reivindicação obriga a pensar e a questionar o porquê das escolhas. Tal como Duarte, qualquer criança que leia o livro nunca mais olhará as cores da mesma forma. Os lápis passarão, seguramente, a ser utilizados com uma maior liberdade.
Depois de O Dia Em que Os Lápis Desistiram, nada ficará igual. O mundo é agora bem mais colorido. Quem foi que disse que os monstros não podem ser cor de rosa, os pais natais azuis ou o céu amarelo?
Duarte recebeu um BOM pela escolha das cores e uma medalha de ouro pela criatividade. A mesma que não hesitaríamos em atribuir a Drew Daywalt e a Oliver Jeffers por esta genial, inovadora e divertidissíma história.
Durante 52 semanas, o livro manteve-se como best-seller na lista do New York Times. Foi uma das nossas escolhas de livros 2013. Continua a ser uma das nossas sugestões para leitura em férias. ÚNICO e OBRIGATÓRIO!