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sábado, 4 de junho de 2022

Se Quiseres Voar. Um verão com sabor a livros



Se Quiseres Voar | Julie Fogliano e Christian Robinson | Fábula 


Se quiseres voar, dou-te o céu e o vento a soprarDou-te uma pena e uma avioneta, e a asa de uma borboleta.















É com esta desconcertante simplicidade que começa o livro assinado por uma dupla de peso, responsável pelo magnífico When's my Birthday? que muito gostaríamos de ver por cá. Sozinhos ou em parceria, cada um destes autores já tem lugar de destaque no universo da literatura infantil. 


Um olhar poético sobre o crescimento, dele emergindo todo o encantamento que envolve esta fase da vida.  Com uma toada alegre, texto e ilustrações harmonizam-se numa doce narrativa sobre as asas que damos às nossas crianças para explorarem o mundo à sua volta. Para descobrirem e  percorrerem o seu caminho que nós, pais, desejamos tenha sempre retorno ao ninho.


Duas cerejas-uma moeda para os desejos-uma piada-um tra-lá-lá-uma coçadela nas costas-uma escova de dentes-um beijinho-um ombro amigo... são  exemplos do pouco e do tanto que podem precisar. O narrador, representativo de todos os pais do mundo, antecipa as pequenas grandes coisas que a criança poderá desejar. É nesse vaticínio, repleto de sensibilidade e de humor, que reside grande parte do fascínio da narrativa. E que se completa pela autenticidade do que se oferece.
















À simplicidade poética do texto de Fogliano junta-se a do traço de Robinson, que com sobeja delicadeza transforma cada página num poema visual. Mas, o que sempre mais nos apraz no seu trabalho é a forma como usa o "seu traço de menino" para transformar cada livro numa ode à diversidade e à inclusão. Se Quiseres Voar não foge à regra, com um elenco atravessado por muitos e diversos tons de pele. Este é um livro que todos merecemos. Não percam o voo! 


segunda-feira, 28 de setembro de 2020

És Importante. Um Livro Precioso


Depois de Gaston e Outro, a editora Orfeu Negro traz para Portugal mais um livro do californiano Christian RobinsonÉs Importante chega na altura certa. No meio de uma  pandemia que virou do avesso hábitos e rotinas, não podia ser mais oportuno valorizar o papel de cada um no mundo e mostrar às  crianças que todos contam. Independentemente de quem somos, onde estamos ou do que temos. Elas, seguramente, agradecem esta singular e maravilhosa forma de elevação da auto estima. Todos são importantes. Todos fazem a diferença. 
A dedicatória do autor é elucidativa: Para quem não tem a certeza se faz a diferença.


Robinson demonstra uma singular e inteligente subtileza nas formas que encontra de contar o mundo. Neste caso, a história começa mesmo antes de abrirmos o livro. A genial diversidade de crianças que vemos na capa e a óbvia importância da tarefa que cada uma desempenha  no grupo aliadas ao título são, para o leitor, premissas de uma brilhante história guardada nas páginas de dentro. As guardas abrem caminho e acolhem o leitor numa grande cidade, onde podemos localizar as crianças a brincar. Ao invés do que seria  expectável, a primeira página é minimalista. Nela, uma criança negra, que nos lembra Outro, observa através de um microscópio. Uma coisa tão mínima que mal se vê.



As poéticas frases curtas que compõem o texto dão ao leitor a medida exacta do que é essencial. Repetindo-as em cenários diferentes, o autor oferece-nos uma história circular de grande brilhantismo. O último a ir e o primeiro a chegar. És importante. 


A cada virar de página, o leitor vai percebendo que tudo é uma questão de perspectiva. Melhor, de perspectivas. Da forma como olhamos o mundo e nos ligamos a ele. Grande ou pequeno, o último ou o primeiro, a favor ou contra a maré, velho ou novo, longe ou perto... Todos contamos. Todos somos importantes.
A diversidade está espelhada em todas as páginas e, dificilmente, existirá uma criança que não se identifique com o grupo. 

O microscópio inicial  cede lugar a um cenário cósmico, onde todos continuam a ser importantes. As imagens vão dando conta de como todos estamos ligados.  E essa é a maior das subtilezas, quase como se o leitor não detetasse a continuidade existente na narrativa. A astronauta, uma  mulher negra, exibe a fotografia de um rapaz negro, que por sua vez aparece nas páginas seguintes... São várias as conexões que a linguagem imagética permite ao leitor descobrir enquanto percorre o livro. E vale a pena percorrê-lo muitas vezes. 


O livro de Robinson teve ainda um outro sentido de oportunidade no seu lugar de origem, uma vez que coincidiu com o auge dos protestos sociais originados pela morte de George FloydEm entrevista ao Milwaukee Journal Sentinel, aquando da apresentação virtual do livro, o autor sublinhou: "realmente acredito que a maioria dos problemas do mundo hoje tem a ver com as pessoas não sentirem que são realmente importantes ou valiosas. E eu acho, é claro, que tudo começa na infância. Sim, eu acho que o mundo pode ser um lugar diferente se recebermos essa mensagem logo no início e realmente acreditarmos nela." 
Nós também! E ainda achamos que Christian Robinson se tornou um autor importante no panorama da literatura infantil. Ainda que à distância, estamos ligados. E vocês?

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Outro. Ou não?



É um álbum só de imagens de que nos enamoramos logo na capa. Rapidamente percebemos que a distinção recebida, em 2019, de Melhor Livro Infantil Ilustrado para o New York Times e New York Public Library, lhe assenta muito bem. O enamoramento perdura muito para  lá da viagem  ao outro lado do espelho que o seu autor, o americano Christian Robinson, nos proporciona.



O ponto de partida é o quarto da pequena protagonista. O leitor observa-a enquanto dorme na companhia do seu gato. O escuro da noite e a magia apresentam-se como aliados e, subitamente, há uma passagem que se abre. Do lado de lá surge um gato em tudo igual ao da pequena, apenas se distinguindo pela cor da coleira. Um rato de brincar parece ser o alvo da visita do intruso. O verdadeiro proprietário não se fica e inicia a perseguição, não hesitando em fazer a travessia para o outro lado. Atrás dele vai a dona, entretanto acordada por tão inusitados acontecimentos no seu quarto. Atrás dela, seguimos nós, leitores. 




Agora que chegámos, o encantamento é grande. Encontramos um mundo de pernas para o ar, com a acção a decorrer também  na página da esquerda e a levar-nos a virar o livro várias vezes. O que vemos deslumbra-nos. As cores, a inteligente e sóbria ocupação do espaço branco das páginas, a disposição geométrica com alguns toques echerianos, as colagens... 



À medida que nos passeamos e divertimos neste lugar povoado de crianças e de brincadeiras, deparamos-nos com o que parece ser um mundo de duplos. Todas as personagens têm um outro eu. Mas será mesmo um outro ou uma versão de si próprias?



Este mundo maravilhoso, que não é de Alice,  é ainda um hino à diversidade. Aqui, a protagonista, uma encantadora menina de raça negra que exibe umas tranças maravilhosas, regressa tranquilamente ao seu quarto.



Robinson já se tinha estreado como ilustrador na Orfeu Negro, com o delicioso Gaston. Dele  falámos aqui. Agora, resta-nos esperar pelo próximo . E se nos é permitido o desejo, gostaríamos muito ver chegar em português Last Stop on Market Street.
O final do livro? É brilhante. A única certeza com que ficamos é que vamos voltar a aventurar-nos por este mundo maravilhoso. Vêm?

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Gaston


                                   Fifi,      Xuxu,     Oh-lá-lá,     Gaston 



São  os filhos da Srª Caniche, uma mãe vaidosa e orgulhosa dos seus doces e encantadores cachorrinhos. Quatro amores perfeitos, pelo menos, à primeira vista. Porque a um segundo olhar, a que o próprio texto convida o leitor - Vamos vê-los outra vez?-  é notório que não são todos iguais. Gaston é diferente, não se parece com os irmãos. E não são só as semelhanças físicas que não existem. 



É sobretudo nas aprendizagens que se diferenciam. Gaston é o mais esforçado, o que mais se aplica, mas também o mais trapalhão. Não perece talhado para a etiqueta e boas maneiras, que com tanta naturalidade se praticam no seio da família.



De forma hilariante e divertida, texto e imagem mostram, algumas vezes, realidades distintas. Não menos divertidas são as subtilezas com que o leitor é brindado. Que Gaston não é um caniche salta à evidência. Mas, enquanto as ilustrações atestam a diferença de raça, até meio do livro o texto nunca a assume explicitamente.
Três já eram do tamanho de chávenas de chá. O quarto, entretanto, crescia e crescia. Parecia já um autêntico... bule de chá.


É preciso esperar pela primavera e acompanhar a Srª Caniche  ao parque com os seus pequenotes para que tudo se clarifique. O encontro, no mínimo estranho, com a família Buldogue, onde Antoinette, uma pequena caniche, parece carta fora do baralho, revela o óbvio. Às mães e aos leitores. Os cachorros tinham sido trocados à nascença.



Não admira que as mães tentassem logo ali reparar o erro,  dando o seu a seu dono. Gaston voltou para casa com a sua família de sangue, os Buldogues, e Antoinette regressou com a mãe biológica, a Srª Caniche, e as irmãs. Mas o que se seguiu foi...desastroso! Antoinette não se ajustava  à vida esmerada e cor-de rosa das irmãs. Gaston, por seu lado, não apreciava as confusões e a chinfrineira que pautavam o dia a dia dos irmãos. E também não morria de amores pelo castanho!


Rapidamente, o equívoco foi desfeito e ambos os cachorros voltaram às "famílias de adopção", onde eram felizes. Continuaram a encontrar-se e a partilhar experiências. Os buldogues ensinaram os caniches a ser menos queridos e estes ensinaram os buldogues a ser menos brutos. Gaston e Antoinette cresceram... apaixonados. Casaram e ensinaram os filhos a ser o que bem quisessem.


De forma alegre e empolgante, a história mostra-nos que numa família, mais do que os laços de sangue, o importante é o amor. Gaston encanta os leitores graúdos e faz as delícias dos mais pequenos, tornando-se uma excelente companhia para férias.



Com texto de Kelly Dipucchio e ilustrações do premiado Christian Robinson, Gaston foi recentemente trazido para Portugal pela Orfeu Negro. Há cerca de dois anos, tínhamos tido a sorte de nos cruzar com ele em Berlim, na fantástica livraria Mundo Azul. Não nos separámos mais deste livro delicioso, onde palavras e imagens se casam num grafismo charmoso e irresistivelmente divertido.