Vencedor do Prémio Hans Christian Andersen, em 2012, Peter Sís é um autor, melhor, um criador singular. Os seus livros revelam um estilo peculiar, marcado por uma narrativa desenhada, com recurso a uma multiplicidade de símbolos, na qual texto e imagem se harmonizam de forma exemplar. Histórias que se intuem geometricamente pensadas.
As biografias são uma temática recorrente na sua obra. A paixão que dela emana por alguns vultos da História, pela grandeza das suas vidas e das suas personalidades, pela herança que doaram à humanidade, é absolutamente contagiante. É assim em A Árvore da Vida, único livro do autor editado entre nós, pela Terramar, onde conta a fascinante vida de Charles Darwin, e em Starry Messenger, dedicado ao grande Galileu Galilei.
O que muitas vezes soa a maçador, quando falamos de livros biográficos, adquire, na obra deste autor, uma dimensão de excelência. Como se desejasse não deixar ninguém indiferente. E não deixa. Os mais pequenos perdem-se extasiados nos seus livros. Nós, leitores adultos, ligamo-nos a eles com a mesma afeição que dedicamos aos objectos que fazem parte de nós.
Com uma simbologia própria, como se de um código de leitura se tratasse, página a página, o livro transforma-se em algo mais. Uma parafernália de círculos, rectângulos, estrelas, mapas, árvores genealógicas em forma de mandalas, diários, notas... vai acolhendo pequenas histórias dentro da história. Todos estes elementos coabitam numa ordem geométrica e numa escrupulosa unicidade.
A singularidade e riqueza visuais aliadas ao rigor documental, transforma-nos em leitores fascinados pela vida e obra de quem fala. Vemos cada detalhe, seja qual for o sentido da orientação da leitura. Permanecemos em cada página por tempo indeterminado.
É o que acontece no seu último livro The Pilot and the Little Prince, The Life of Antoine de Saint-Exupéry. A história do autor de O Principezinho é-nos contada com uma sábia mestria e resulta num livro belo e extraordinário!
Saint- Exupéry chegou ao mundo em 1900, altura em que a França via inventarem-se os primeiros aviões. O rapaz, que nasceu com cabelo cor de ouro e a quem a família chamava rei-sol, cresceu com a paixão pelas asas. Aos doze anos, construía a sua primeira máquina voadora e ainda que as coisas não tenham corrido pelo melhor, não se deixou desencorajar.
Mais tarde, viria a tornar-se um piloto exímio, cabendo-lhe papel de relevo como um dos pioneiros do correio aéreo. As rotas que percorria, os obstáculos que venceu, os acidentes sofridos, os amigos que teve, os sonhos realizados, são minuciosa e magicamente contados por Sís.
O Capitão dos Pássaros, como ficou conhecido pelos nativos durante os dois anos que viveu na solidão do deserto debaixo de milhões de estrelas, atravessou glaciares, sobrevoou montanhas e florestas tropicais, venceu ventos e tempestades. Tornou-se conhecido do mundo como piloto e escritor.
A chegada da II Guerra Mundial coloca-o nos céus com outro tipo de missão, tornando-se um observador das atrocidades cometidas pelos alemães.
Recusando viver numa França sob domínio nazi, Saint- Exupéry acabaria por apanhar um barco até Lisboa para conseguir rumar a Nova Iorque. É lá que, em 1943, publica O Principezinho.
As saudades do seu país e de voar falaram mais alto e, dois anos volvidos, acaba por regressar. A França e aos céus. No dia 31 de julho de 1944, voou até Borgo, na região da Córsega, com a missão de fotografar as posições inimigas. Nunca mais voltou.
Peter Sís escreve: " Maybe Antoine found his own glittering planet next to the stars".
Uma extraordinária e inesquecível viagem pelo tempo e pelo espaço. Acompanhamos Saint-Exupéry nas suas arrojadas viagens, conhecemos-lhe as rotas, descobrimos-lhe a sensibilidade de sonhador. Já antes, na sua infância, nos tínhamos levantado de madrugada para lhe fazer a vontade e ouvir os seus poemas.
As obras de Sís não se lêem de uma assentada. Fazem-nos ler, esmiuçar cada detalhe fabuloso. Esperamos que, tal como Saint- Exupéry, também os livros de Peter Sís cheguem a Portugal. Desta feita, não de passagem. Que venham para ficar. Porque merecemos!
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