sexta-feira, 22 de novembro de 2024

STOP








































STOP | Ricardo Henriques e Pierre Pratt | Orfeu Negro


Os mais novos não o conhecem. Nunca o viram e, muito provavelmente, não ouviram falar dele. Na verdade, é uma espécie em vias de extinção. Ou, como se diz nesta história, um mamífero raro, ainda mais do que o tigre-de-bengala, o rinoceronte-branco ou aquela pessoa-que-escreve-cartas-de-amor. Vestido a rigor, com o típico capacete branco que lhe granjeou a alcunha de "cabeça de giz", luvas brancas a evidenciar o frenético gesticular de mãos e braços, apito na boca, eis o polícia sinaleiro. 
























Do alto do seu "trono" era dele a responsabilidade de orientar o trânsito. Veículos ou peões, todos obedeciam à sinaléctica, confiando-lhe a sua própria segurança. Falamos de um tempo em que as máquinas de três cores, vulgo semáforos, ainda não tinham sido inventadas. Hoje, já não nos lembramos das ruas sem elas e os polícias sinaleiros foram desaparecendo. São muito poucos os que existem. Quase nenhuns. 
























Que o diga o agente Simões, o polícia sinaleiro desta história. A chegada dos semáforos ao seu cruzamento deixou-o sem emprego e mudou-lhe a vida por completo. Ainda pensou declarar guerra ao inimigo, mas atrapalhar o trânsito não era coisa para ele. Mas desenganem-se os que pensam que o nosso agente se deixou abater. Não podia ficar de braços parados e foi em busca de nova ocupação. Afinal, a vida é feita de recomeços e de novas oportunidades. Foi assim que o agente Simões se viu a dirigir uma orquestra e, imaginem, até um farol... mas nada daquilo era para ele. O que, a esta altura, Simões não suspeitava era que lhe estivesse destinada uma missão muito maior, a de salvar o mundo. 


STOP é uma história divertida e cheia de humor, que ao mesmo tempo nos faz acreditar em recomeços, em persistência e determinação, em "não baixar os braços".  As magníficas ilustrações de Pratt, no seu traço inconfundível, espraiam-se pela páginas em brilhantes arranjos de tamanhos e perspectivas, dando-nos uma visão quase cinéfila da vida e das peripécias reservadas ao sinaleiro Simões. Texto e imagens complementam-se com mestria.





















Sim, o nosso polícia sinaleiro acabou por salvar o mundo, conquistar o seu lugar na história, tornar-se um herói mundial. E, mais importante, assegurar a continuidade dos sinaleiros já que hoje percorre o mundo, de Alpalhão a Brooklyn, conhecendo-lhe os cruzamentos todos. 




Para conhecerem a dimensão da proeza abram o livro, percorram as ruas com os mais novos, fiquem atentos ao apito do agente Simões e soltem as gargalhadas da criançada. STOP.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

A Gigantesca Pequena Coisa




 







A Gigantesca Pequena Coisa | Beatrice Alemagna | Orfeu Negro


É um luxo ver os livros de Beatrice Alemagna por cá, e logo em dose dupla! Num curto espaço de tempo, fomos presenteados com dois magníficos livros trazidos pela mão das editoras Orfeu Negro e Kalandraka. Depois de uma anterior edição, há muito esgotada, da Bags of Books, está de volta essa incrível Gigantesca Pequena Coisa.







































Uma coisa que passou mesmo ao lado dos pés do pequeno Sebastião, que uma menina tentou apanhar como se apanha uma mosca, que alguns esperam durante muito tempo sem conseguir encontrar ou reconhecer... Há quem tenha medo dela, feche as portas, construa muros ou quem a tente comprar. 
De modo sublime, enigmático e nostálgico, Alemagna constrói uma narrativa em torno de algo que atravessa todo o livro, mas que só no final é revelado ao leitor. Algo transversal a todas as personagens que percorrem as páginas. Homens ou mulheres, velhos ou novos. 







































Que coisa é essa? Há quem a encontre nos cheiros, nos olhares, nos braços de alguém. E também há quem chegue a encontrá-la num simples floco de neve, no meio da chuva ou numa lágrima. Momentos tão fugazes quanto maravilhosos. Não podemos retê-la, não a podemos guardar, mas, de uma forma ou de outra, procuramo-la.




























Pintado de cores que parecem sempre ser só suas, a autora é dona de um universo feito de poesia, beleza, delicadeza e com uma forte componente filosófica. Através de uma harmoniosa simbiose entre palavras e ilustrações, o seu trabalho denota uma coerência e uma estética inconfundíveis. 
Não hesitem. São razões mais do que suficientes para querer habitar os livros desta nossa autora de eleição.  Abram as páginas todas e vão lá desvendar que gigantesca pequena coisa é essa. Para nós é impossível e impensável não abrir qualquer um dos livros de Alemagna e ficar por lá, sentindo essa imperfeita perfeição.