quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Como Nascem As Árvores


 






















Como nascem as árvores |  Charles Berberian | Orfeu Negro


Berberian acompanha-nos desde os anos 90. A dupla Dupuy-Berberian com Monsieur Jean e Henriette (que chegámos a ver por cá há muitos anos) fazia as delícias de todos por aqui. Esta é a sua estreia no universo do álbum ilustrado. Uma estreia magistral que lhe valeu o Prémio Bolonha Ragazzi 2024 e que nos deixa, agora, imensamente felizes por chegar até nós.




De mãos dadas, uma mãe e o pequeno filho passeiam-se pela floresta, na companhia do seu cão. Uma página em branco parece sugerir ao leitor um convite para que faça parte da  caminhada. Rapidamente lhe detectamos a atmosfera intimista e descobrimos que este é um lugar de contemplação, de pausas, de silêncios. Mas, também, de perguntas e de respostas que, ainda que carreguem um pendor informativo, nos chegam envoltas em poesia.
























Ao longo da caminhada, o leitor redescobre-se dentro de um jogo de harmonias. Entre a doçura e a inocência das perguntas e a profundidade poética das respostas e das imagens dos lugares por onde vai andando. Retemos a inocência e a graça das perguntas do pequeno, curioso para saber se as árvores se casam entre elasse têm árvores bebés ou até se as mais pequenas vão à escola (considerando-as, num apontamento de humor, umas"sortudas"). Mas no momento imediato, paramos num qualquer recanto frondoso, para ouvir as respostas da mãe e refletir sobre as árvores grandes e pequenas, sobre as sementes, sobre o ciclo da vida...
























Percorremos as páginas encantados com esta viagem que se faz de contemplação, de algumas pausas, de muitos silêncios. Não perdemos pitada. Desde as brincadeiras do cão à curiosidade do pássaro vermelho que, como nós leitores, não resiste a partilhar os belos trilhos e as conversas. Até que chegamos ao lugar  considerado perfeito pela mãe. E tal como o rapaz, também somos surpreendidos pelo propósito definido que a mãe carregava desde o inicio. Cumprir a promessa que fizera ao avô de plantar uma árvore quando ele já não estivesse com eles.






 

















Berberian faz a primeira incursão pelo álbum ilustrado, passeando-se por uma temática premente, envolto na delicadeza e sensibilidade do seu traço mas, também, na assertividade das palavras escolhidas. Nunca renegando o seu lugar na BD, oferece-nos uns carismáticos protagonistas e um perfeito manuseamento dos balões de fala. Até o dúbio e humorado final parece ser parte dessa herança maior.























Este é um livro que é uma celebração permanente. Da natureza, do renascimento, da vida e do fim dela. Da família e da memória dos afectos e dos laços. Nada fica de fora desta exaltação que tem tanto de singular e de bela como de minuciosa e completa. À semelhança, afinal, da alternância entre o preto e branco e as cores quentes e belas das páginas desta floresta onde queremos permanecer. Muito tempo. Pausada e silenciosamente.


terça-feira, 7 de outubro de 2025

Três Grandes Perguntas
























Três Grandes Perguntas - (Toda) a Ciência em três grandes perguntas | Philip BallBernardo P. Carvalho | Planeta Tangerina



Pode ser um livro feito a pensar nos mais jovens, mas apaixona leitores de todas as idades. É uma espécie de Tratado de Clareza sobre a Ciência. Mas também podia ser um Manifesto, de apurado sentido crítico, sobre a forma como ela continua a ser ensinada nas escolas. Hoje, como há centenas de anos, a Ciência continua a ser um bicho de muitas cabeças. Sobretudo, para os jovens.



























Philip Ball é formado em Física e em Química. É, também, escritor e apresentador. Durante mais de vinte anos foi editor da revista Nature. Dono de uma obra já premiada, foi enquanto pai que sentiu necessidade de transmitir de forma mais concisa a essência da Ciência às suas filhas. Levá-las a pensar, de forma construtiva, sobre a maioria dos conteúdos de Ciência que encontram nos currículos escolares e na vida.

É disso que se trata. Da importância de poder e de saber pensar sobre as coisas. De fazer as perguntas certas no caminho que conduz à obtenção das respostas e dos resultados. Precisamos que nos ensinem a pensar e não a papaguear números e factos que já esquecemos no dia seguinte. Um trabalho que é tão necessário fazer quanto encontrar as pessoas certas para o levar a cabo. 



























Mel é a jovem protagonista a quem tudo vai sendo transmitido. Coadjuvado por três personagens cientistas, o autor transporta-a numa magnífica viagem pelo mundo da Ciência. A ela e aos leitores, provocando-nos o interesse, despertando-nos a curiosidade, levando-nos a querer vestir a bata branca e, acima de tudo, a adquirir conhecimentos com grande naturalidade. 

Uma viagem proporcionada a meias com Bernardo P. Carvalho, que assina as ilustrações com a sustentável leveza do seu traço, inundando-nos os olhos de cores enquanto harmoniza na perfeição os seus desenhos com as palavras de Ball.

















Mas a maior descoberta que os jovens leitores podem fazer é que este é um percurso onde a imaginação é mais importante que o conhecimento. Quem o disse foi o grande e insuspeito Albert Einstein.

No prefácio que assina, Joana Gonçalves de Sá confessa-se fascinada pelo livro e aponta como uma das razões, o facto de ser

(...) um livro que está sempre a repetir que, em Ciência, o que importa são as perguntas. Isto é raro, porque a maioria dos livros de ciências está absolutamente cheia de respostas e de certezas. Aliás, parece que as escolas existem para nos ensinar que respostas dar nos testes e o que escrever nos relatórios, mas a vida de cientista é estar sempre a tentar perceber o "que" e "como" perguntar (...).

Não podíamos estar mais de acordo. Tanto no fascínio, como nas observações. E apetece-nos voltar a Einstein e às citações que o livro nos fornece: o valor da educação escolar, não é a aprendizagem de muitos factos, mas sim treinar a mente para pensar. 

Porque continuará a ser tão difícil levar isso à prática nas escolas?



























De que serve andar com um número na cabeça (como a velocidade do som) quando se pode ir buscá-lo sempre que é preciso?


A pergunta terá sido formulada por Einstein. Mas, seguramente, foi pensada por milhões de pessoas de todas as gerações sempre que instados, diariamente, a "fixar" para debitar números e mais números, factos e mais factos. Afinal, como diz Ball, os melhores e as melhores cientistas não são os que sabem todas as respostas, mas os que pensam nas melhores perguntas. Essa é a essência da Ciência. E é, também, o que torna este livro essencial. Para jovens e não só. Para os que gostam da Ciência e para os que pensam não gostar.