Akiko Miyakoshi |
domingo, 24 de março de 2019
sexta-feira, 22 de março de 2019
Metade, Metade. Genial por inteiro
O formato é pequeno, mas dentro é tudo grande. Porque a paixão não é coisa de meias- tintas, o vermelho da capa é forte e quente. No intenso verde da contracapa, ficamos a saber que metade deste livro fala de amor e a outra metade também. Gostamos das duas.
A meia voz, a meia luz, sem meias palavras nem meios termos, um menino faz a sua primeira declaração de amor. E, tal como o ritmo do seu coração, a toada das palavras e o jogo que Isabel Minhós Martins faz com elas também são palpitantes.
Passei a manhã a meio gás. Meia carcaça numa bochecha, meio copo de leite na outra, perdido, meio cá, meio lá, pois nada em mim queria saber do mundo, quanto mais de carcaças ou de leite (só de ti).
O jogo estende-se às ilustrações, que têm a assinatura de Madalena Matoso. A criatividade da ilustradora espraia-se pelas páginas de fundo branco, alternando formas e letras, metades e o todo. Acima de tudo, conferindo ao pequeno livro uma requintada unicidade. Há lugares onde se podem esconder pensamentos. Meios ou inteiros.
É de meios, de metades, de cinquenta, cinquenta que se faz o todo, que se faz esta história. O rapaz continua apaixonado e determinado. Ainda que suspeitemos que possa tratar-se de um meia-leca, no momento certo não hesitou.
A meia distância, a meia voz, sem meias palavras, disse-te: És a minha cara-metade.
Metade agora, metade depois? Não, é para ler de uma assentada.
quarta-feira, 13 de março de 2019
Regresso a Casa
É impossível não festejar a chegada a Portugal de um livro de Akiko Miyakoshi, uma autora que nos fascina e cujo trabalho seguimos atentamente. Tudo nos seus livros nos encanta. Os desenhos a carvão, as paletas de cores contidas e suaves, os contrastes de tons quentes e fortes, os jogos de luzes, as perspectivas, as histórias... Le Récital de Piano, The Storm, La Merienda en el Bosque fazem parte da obra desta japonesa que, a cada novo trabalho, nos deixa avidamente à espera de mais.
Regresso a Casa que, em 2016, arrecadou a Menção Especial do Prémio Bologna Ragazzi e, em 2017, o Prémio para Melhor Livro Ilustrado Para Crianças do New York Times, marca a estreia portuguesa de Miyakoshi que passa, agora, a integrar o notável catálogo da editora Orfeu Negro.
No final do dia, o pequeno coelho regressa a casa ao colo da mãe. Um lugar privilegiado para observar a chegada da noite à cidade. Tal como ele, os lugares por onde passa parecem envoltos numa mesma sonolência. As ruas estão vazias, as luzes espreitam por algumas janelas dos prédios, avisando do recolhimento de quem os habita. A cidade prepara-se para dormir.
O restaurante e a livraria começam a fechar portas. É o ciclo do dia que chega ao fim. O leitor percorre o mesmo caminho, os mesmos silêncios. Por entre grandes vinhetas, há conversas que são audíveis, há uma festa que desperta a nossa curiosidade, o cheiro de uma tarte acabada de sair do forno... São as rotinas, feitas das vivências de cada um. Todas diferentes. Todas especiais.
No caso do pequeno coelho, a rotina é-nos totalmente familiar. O dia acaba com o reconfortante e esperado momento em que o pequeno é aconchegado na cama pelo pai.
Mas o leitor permanece na história bem para lá desse momento. A festa chega ao fim. Há os que mergulham no sono, no livro, no banho... os que jantam mais tarde, os que se despedem, os que partem, ainda que desconheçamos o destino.
As tonalidades a carvão trazem a noite até aos leitores. Os tons amarelos das luzes que vão resistindo ao adormecer da cidade oferecem-nos múltiplas histórias distendidas por entre vinhetas que mais parecem transportar-nos para dentro de um filme. As texturas agarram-se aos dedos, como se quiséssemos tocar cada tijolo das paredes ou provar uma fatia de tarte...
Uma atmosfera desenhada com a paz e a tranquilidade que só a noite pode trazer. Bons sonhos e Bom Regresso a Casa!
sexta-feira, 8 de março de 2019
Susa Monteiro nos Hipopómatos
SONHO, a exposição de originais de Susa Monteiro, vai estar patente na Casa dos Hipopómatos de 9 de março a 10 de abril.
sábado, 2 de março de 2019
sexta-feira, 1 de março de 2019
Uma História. Ou serão duas?
Era uma vez uma página em branco.
Sério? O que nós gostamos destes inícios! Ficamos presos ao livro, loucos para saber o que vem a seguir... Pressentimos que vai viver nas nossas mãos sem contrato a prazo. Que vamos mostrar, ler, contar a história... Muitas vezes.
A página seguinte desvenda um pouco do mistério. No entanto, não ficou assim por muito tempo. Não é só o texto que o diz. O leitor depara-se com cinco deliciosas pequenas criaturas dispostas pelas duas páginas, interrogando-se sobre o que farão elas ali.
Rapidamente, descobrimos que nem elas próprios sabem. Não fazem ideia do que está a acontecer ou onde estão. As interrogações são uma evidência.
Creio que estamos num livro. O que se segue à descoberta feita por um deles ( por alguma razão usa óculos...) deixa os leitores ainda mais divertidos. Um useiro e vezeiro "eu sabia!", e o solene anúncio de que vão esperar pela história.
À Espera de Godot? Sim, podia muito bem ser e o leitor adulto não deixa de esboçar um largo sorriso.
Vamos brincar? é a pergunta que faz o mais jovem dos protagonistas, um pequeno coelho munido de uma mochila.
Ninguém arreda pé? Vão ficar aí de braços cruzados sem fazer nada? Mas que seca!
Uma História, de Marianna Coppo, alterna o silêncio e as frases telegráficas num encantador jogo de humor. O resto, são as imagens e os espaços em branco que nos contam. Enquanto na página da direita, por entre frases feitas, os outros aguardam que a história venha ter com eles, na página da esquerda, o pequeno coelho vai construindo a sua própria história.
Creio que estamos num livro. O que se segue à descoberta feita por um deles ( por alguma razão usa óculos...) deixa os leitores ainda mais divertidos. Um useiro e vezeiro "eu sabia!", e o solene anúncio de que vão esperar pela história.
À Espera de Godot? Sim, podia muito bem ser e o leitor adulto não deixa de esboçar um largo sorriso.
Vamos brincar? é a pergunta que faz o mais jovem dos protagonistas, um pequeno coelho munido de uma mochila.
Ninguém arreda pé? Vão ficar aí de braços cruzados sem fazer nada? Mas que seca!
Uma História, de Marianna Coppo, alterna o silêncio e as frases telegráficas num encantador jogo de humor. O resto, são as imagens e os espaços em branco que nos contam. Enquanto na página da direita, por entre frases feitas, os outros aguardam que a história venha ter com eles, na página da esquerda, o pequeno coelho vai construindo a sua própria história.
E que história! Uma magnífica e divertida abordagem das possíveis reacções perante situações inesperadas da vida. De um lado, o conformismo, a apatia, o medo do incerto. Do outro, a iniciativa, a audácia e a vontade própria.
E a outra história? A tão aguardada... Sim, também acaba por chegar. Em forma de carta, que aqui, na versão da editora Kalandraka, se estendeu à capa e à contracapa. Talvez por isso, gostemos bem mais desta do que da versão inglesa, onde o mesmo não sucedeu. Se chegou a tempo? Vão lá e descubram!