quarta-feira, 13 de março de 2019

Regresso a Casa


É impossível não festejar a chegada a Portugal de um livro de Akiko Miyakoshi, uma autora que nos fascina e cujo trabalho seguimos atentamente. Tudo nos seus livros nos encanta. Os desenhos a carvão, as paletas de cores contidas e suaves, os contrastes de tons quentes e fortes, os jogos de luzes, as perspectivas, as histórias...  Le Récital de Piano, The Storm, La Merienda en el Bosque fazem parte da obra desta japonesa que, a cada novo trabalho, nos deixa avidamente à espera de mais. 


Regresso a Casa que, em 2016,  arrecadou a Menção Especial do  Prémio Bologna Ragazzi e, em 2017, o Prémio para Melhor Livro Ilustrado Para Crianças do New York Times, marca a estreia portuguesa de Miyakoshi que passa, agora, a integrar o notável catálogo da editora Orfeu Negro.


No final do dia, o pequeno coelho regressa a casa ao colo da mãe. Um lugar privilegiado para observar a chegada da noite à cidade. Tal como ele, os lugares por onde passa parecem envoltos numa mesma sonolência.  As ruas estão vazias, as luzes espreitam por algumas janelas dos prédios, avisando do recolhimento de quem os habita. A cidade prepara-se para dormir.


O restaurante e a livraria começam a fechar portas.  É o ciclo do dia que chega ao fim. O leitor percorre  o mesmo caminho, os mesmos  silêncios. Por entre grandes vinhetas, há conversas que são audíveis, há uma festa que desperta a nossa curiosidade, o cheiro de uma tarte acabada de sair do forno... São as rotinas, feitas das vivências de cada um. Todas diferentes. Todas especiais.


No caso do pequeno coelho, a rotina é-nos totalmente familiar. O dia acaba com o reconfortante e esperado momento em que o pequeno é aconchegado na cama pelo pai.


Mas o leitor permanece na história bem para lá desse momento. A festa chega ao fim. Há os que mergulham no sono, no livro, no banho... os que jantam mais tarde, os que se despedem, os que partem, ainda que desconheçamos o destino.


As janelas iluminadas são um convite para entrar em casa destas pessoas e conhecer um pouco dos seus mundos. Mas, acima de tudo, são um desafio à imaginação de pequenos e grandes leitores que por aqui permanecem em jogos de adivinhação. 


As tonalidades a carvão trazem a noite até aos leitores. Os tons amarelos das luzes que vão resistindo ao adormecer da cidade oferecem-nos múltiplas histórias distendidas por entre vinhetas que mais parecem transportar-nos para dentro de um filme. As texturas agarram-se aos dedos, como se quiséssemos tocar cada tijolo das paredes ou provar uma fatia de tarte...


Uma atmosfera  desenhada com a paz e a tranquilidade que só a noite pode trazer. Bons sonhos e  Bom Regresso a Casa!

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