quinta-feira, 15 de abril de 2021

Tímidos. Eles andam por aí.

 

















Não gostam de dar nas vistas. Raramente se chegam à frente e quase nunca os vemos de dedo ou mão no ar. Se pudessem, gastavam grande parte do seu tempo a escavar buracos para se enfiarem. Na impossibilidade de o fazerem, qualquer coisa serve. Debaixo da mesa ou da cama, à volta da saia da mãe ou, de preferência, no armário. São os tímidos, pois claro. Maurício, o pequeno polvo-panqueca que vemos na capa, preenche todos estes requisitos e muitos outros que poderíamos enumerar. É um tímido. Mas como diz a voz popular, timidez não é defeito é feitio.








Tímidos, recentemente editado pela Orfeu Negro, tem a assinatura da já nossa conhecida Simona Ciraolo. O Que Aconteceu à Minha Irmã, O Rosto da Avó e o incrível Quero Um Abraço são as obras da autora que já conhecemos. Com uma forte componente visual, este novo álbum relembra-nos, de alguma forma, o anterior Quero Um Abraço. Detectamos-lhe as mesmas delicadeza  e simplicidade que já nos tinham encantado. Maurício, o pequeno polvo-panqueca recorda-nos o solitário Filipe, o pequeno cacto.


Maurício é apresentado aos leitores nas primeiras páginas. Texto e imagens retratam a sua timidez em diversos contextos. Na sala de aula afunda-se na carteira, no recreio tenta passar despercebido...Tudo o que o pequeno polvo quer é que a sua presença não seja notada.  Serão muitas as crianças que se revêem neste comportamento e que se sentem, desde logo, suas amigas. Enquanto leitores, quase pedimos desculpa a Maurício. É impossível não lhe seguir os passos, não querer saber mais sobre ele.


A voz que conta a história alerta para não tirarmos conclusões precipitadas. Nem tudo o que parece é. Não, Maurício não é um "polvo chato"! Se o conseguíssemos ver quando ele pensa estar  sozinho... nem imaginam as coisas divertidas de que é capaz. Abram as páginas com cuidado para que ele não dê por vocês e... espreitem! Pois é, todos ficamos surpreendidos!



Para os tímidos, o convite para uma festa de aniversário de um dos seus pares  pode revelar-se uma tortura. Não é que não gostem de festas, mas há sempre tanta gente!! Apesar de todas as suas hesitações perante o convite, desta vez,  Maurício acaba por fazer um esforço. Afinal, podia ir mascarado! Foi lá que conheceu Lúcia, uma peixe-cofre tão tímida quanto ele. Nós ficamos felizes com o que antevemos ser o princípio de uma forte amizade. 

Ciraolo brinda-nos com um final surpreendente e divertido. Lúcia era afinal a nossa narradora. Se voltarmos  a ler história, concluímos facilmente que ela sempre  andou por lá. Que está em todas as páginas. Mas não esqueçam que também é uma tímida e fará tudo para que não reparem nela. Agarrem nos miúdos. Nos tímidos e nos outros e vão até lá. Conheçam o Maurício e a Lúcia ao mesmo tempo que admiram a magnífica diversidade da vida marinha.

 

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