terça-feira, 14 de julho de 2015

Gatinho e as Férias






As histórias encantam as crianças, que rapidamente se identificam com os animais humanizados que dão corpo às  personagens.


Uma espécie de fábulas contemporâneas, onde o simpático gatinho assume o protagonismo, partilhando com os mais novos situações que lhes são familiares e com que também eles se debatem no seu quotidiano. 


Textos simples e claros, texturas suaves, 
ilustrações com cores alegres e intensas, 
formato pequeno... são alguns dos elementos que cativam os seus pequenos destinatários.





Gatinho e as Férias, recentemente editado pela Kalandraka, é o terceiro livro escrito pelo cubano Joel Franz Rosell e ilustrado pela alemã  Constanze v. Kitzing. 



Com as férias à porta, Gatinho  descobre que os amigos já têm planos bem delineados para passar o verão. Na praia, na aldeia, no estrangeiro... Férias só com a mãe enquanto o pai fica a trabalhar, em casa dos avós porque os pais estão ocupados ou até metade das férias com a mãe e outra metade com o pai... Tamanha diversidade dá que pensar até porque, ao invés dos amigos, Gatinho não sabe como serão as suas férias nem como irá ocupar o seu tempo.


Com grande subtileza, a história reflecte a diversidade social do grupo de amigos e os diferentes contextos familiares em que vivem. As dúvidas de Gatinho espelham as de qualquer criança em situação idêntica. Afinal, como vai Gatinho passar este verão?



É o que terão de descobrir a meias com a pequenada. Por aqui, apenas podemos garantir que na praia, na serra, na cidade ou em qualquer outro lugar, Gatinho será uma companhia de excelência para os mais novos.  Boas Férias!

segunda-feira, 13 de julho de 2015

O Frigorífico da Magui


A Magui é melhor a escalar. Sofia é melhor a correr. Mas essa não é a única diferença entre as duas amigas. Quando Sofia, esfomeada,  abre o frigorífico da Magui,  descobre que dentro dele  há apenas um pacote de leite. Ainda assim, reservado ao irmão mais pequeno.


Em casa da Sofia, o frigorífico costuma estar cheio. Comida é coisa que não falta,  nem para o cachorro. Talvez por isso Sofia não perceba porque é que a mãe da amiga não vai às compras e Magui acaba por contar o seu segredo: lá em casa não há dinheiro. A seguir fica o pedido, Sofia tem de prometer não contar a ninguém.


Sofia não consegue esquecer o frigorífico vazio de Magui. Mas também não esquece a promessa que lhe fez. A vontade de ajudar a amiga é do tamanho do mundo,  mas os planos que vai pondo em prática revelam-se desastrosos. É que peixe e ovos podem ser bons para as crianças, mas não são bons para as mochilas... "Duplo nojo".


Curiosos e interessados, os leitores partilham o conflito de Sofia e acompanham-na na busca da melhor forma de ajudar a amiga. Um tema pouco habitual na literatura, a fome infantil, a merecer uma abordagem sensível e inteligente, temperada com um delicioso humor. O Frigorífico da Magui, título a que nos rendemos,  é uma história que sensibiliza os mais novos, e não só, para um problema bem actual e quase sempre envolto num manto de vergonha por parte de quem o vive. 


De mãos dadas, amizade e solidariedade percorrem o livro escrito por  Lois Brandt e ilustrado por Vin Vogel.  No final, ficam várias sugestões para os jovens leitores que possam ter amigos com um frigorífico igual ao da Magui. Vamos Ajudar Quem Tem o Frigorífico Vazio?

sexta-feira, 10 de julho de 2015

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Grandes Vidas Portuguesas


A importância de se chamar... Ana de Castro Osório, Azeredo Perdigão, Aristides de Sousa Mendes ou Alfredo Keil. Coincidência ou não, os  últimos quatro biografados da colecção Grandes Vidas Portuguesas têm em comum a primeira letra do nome. Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Salgueiro Maia e o Soldado Milhões tinham sido os quatro primeiros vultos desta magnífica colecção editada pelo Pato Lógico em parceria com a Imprensa Nacional- Casa da Moeda.

                   

Escritora, editora, jornalista, ensaísta, pedagoga, feminista, maçónica e republicana, Ana de Castro Osório é considerada, por muitos, a mãe da literatura infantil em Portugal. 

Na biografia escrita por Carla Maia de Almeida e ilustrada por Marta Monteiro, encontramos algumas das ideias defendidas por esta mulher, nascida em 1872, que surpreendem pela actualidade da sua importância.

" Um livro de literatura e de recreio não pode ser nunca - nem para grandes, quanto mais para pequenos - um livro de estudo e de moral, pesado e aborrecido até só pela intenção."



As biografias são lembretes, estímulos para a memória. Vai-se o homem, fica a obra. Ainda estremecemos só de imaginar que estes dois homens, por azares do destino, podiam nunca ter chegado a encontrar-se. Por isso estamos gratos às estrelas propícias que lhes iluminaram os passos pelos trilhos da vida.


As palavras são de António Torrado, autor da biografia de Azeredo Perdigão, o ilustre advogado, que um dia se cruzou com o milionário arménio Calouste Gulbenkian.  Desse feliz encontro resultou a criação de uma grande Fundação, sediada em Lisboa, dedicada ao apoio das Artes, das Ciências, da Educação.


Com ilustrações de Susa Monteiro, a história cruza de forma apaixonante o percurso destes dois homens e faz-nos agradecer às estrelas muitas, muitas vezes! 





Foi um herói do século XX, e os heróis não podem ser esquecidos. O esquecimento mata-os duplamente. 

Esta é a biografia de Aristides Sousa Mendes, o cônsul português a quem Salazar nunca perdoou a coragem de ter salvo milhares de judeus. 

O texto é de José Jorge Letria e as soberbas ilustrações são da autoria de Alex Gozblau.











Será sempre lembrado como o compositor da Portuguesa, o nosso Hino Nacional. Mas  a vida de Alfredo Keil foi muito  para além disso. Pintor, poeta, fotógrafo, músico... Foi um artista multifacetado.

Com texto de José Fanha e ilustrações de Susana Carvalhinhos, a biografia deste homem da cultura revela algumas facetas menos conhecidas

Uma magnífica forma de apresentar alguns nomes maiores da nossa história aos mais novos. Mas nem por isso menos cativante para os mais velhos. Ficamos à espera... dos senhores que se seguem.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Finalmente o Verão







Sem interrupções nem paragens. Quando o abrimos, somos impelidos a lê-lo de fio a pavio. Devoramos cada página. Aguçadamente curiosos, enfiamo-nos pelas histórias, convictos de não querer perder pitada deste Verão. Definitivamente, instalamo-nos em Awago Beach.



É lá que Rose e os pais costumam passar as férias. Um ritual que se mantém desde sempre, conta a jovem protagonista de quem não sabemos a idade. Windy, ano e meio mais nova, é  a amiga e cúmplice de todos os verões.




Este anuncia-se o verão de todas as mudanças.


Finalmente o Verão é o quarto livro da colecção Dois Passos e Um Salto, editada pelo Planeta Tangerina. O primeiro a chegar de fora, com assinatura das Tamaki, duas primas nascidas no Canadá e descendentes de uma família japonesa. Sob a forma de novela gráfica, revela-se uma história intensa e sublime sobre o fim da infância e a entrada na adolescência.



De modo magistral, é a abordagem dicotómica entre passado e presente que vai pondo em evidência o processo de crescimento de Rose e a consequente turbulência interior que sempre o acompanha. O ponto de partida é dado pelas imagens iniciais, que quase apanham o leitor desprevenido. Rose não é mais a pequena criança que ali vemos voltar para casa ao colo do pai, depois de ter adormecido.


Para trás,  parecem ir ficando, igualmente, a inocência e a candura próprias da infância. Rose atravessa agora os conflitos e as inquietudes de uma recém-chegada à adolescência. Dentro de casa, o contexto dos dias é marcado pelas permanentes discussões dos pais, pela depressão e tristeza da mãe, pelo conflito latente entre ambas. 


Resta-lhe Windy, a amiga com quem, desde os cinco anos, partilha o tempo de férias. Apesar da curta diferença de idades, um muro parece começar a erguer-se entre as duas.  Ainda  que tentada pelo balouço ou pelas gomas que dividem, o processo de afirmação de Rose já está em curso e manifesta-se, por exemplo, na escolha de filmes de terror. Filmes para gente grande. Os mesmos que provocam horrores nocturnos a uma Windy ainda presa à infância e pouco motivada para emergir da liberdade de comportamento que ela lhe concede.


As sucessivas idas à loja local, sempre povoada por um grupo de jovens mais velhos, acabam por transformá-las  em espectadoras privilegiadas de alguns acontecimentos  marcantes  e acentuar ainda mais as diferenças entre as duas amigas. As angústias, as interrogações e até as paixonetas platónicas que pontuam a adolescência surgem no caminho de Rose.


Temas como a gravidez, o aborto, a sexualidade ou a adopção atravessam o Verão em Awago Beach. Rose cresce com eles, posicionando-se numa busca quotidiana da sua identidade. Há um tempo de inocência que não volta. Mas os acontecimentos ali vivenciados permitirão, certamente, um regresso a casa mais apaziguador.



Envolto num invejável palmarés de prémios,  é um livro arrebatador e fascinante. Entre muitos outros atributos, o formato de banda desenhada, a magnificência dos desenhos, os jogos de intensidade da cor azul, a utilização de uma linguagem com a qual os adolescentes facilmente se identificam, fazem de Finalmente o Verão um livro apelativo tanto para jovens como para adultos. Uma pedrada no charco da mediocridade que tantas vezes invade a literatura juvenil. 

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Segredos na Floresta. O Regresso de Jimmy Liao


Há dois anos, escrevemos aqui sobre o fantástico mundo de Jimmy Liao. Confessámos a nossa paixão pelos sua obra, um misto de arte e poesia  sem destinatário específico. Os  seus livros falam de percursos, dos caminhos que se escolhem ou não, da transitoriedade e finitude da vida. De sentimentos, sonhos, medos, perdas... Ao mesmo tempo, interrogávamo-nos até quando durariam os desencontros entre o autor e as nossas editoras. Antes, já tínhamos mostrado um pouco do seu trabalho aqui.


Há um ano, festejámos a sua chegada, quando a Kalandraka nos trouxe o magnífico  Desencontros. A aposta da editora é para continuar, sendo expectável e desejável que a obra deste premiado autor se possa tornar conhecida dos leitores portugueses. O segundo livro, Segredos na Floresta, já anda pelas livrarias.


Hoje, falamos de segredos e de sonhos, acompanhando a pequena e solitária protagonista  da história. Com ela, abrimos a porta da floresta que esconde os seus segredos. O seu guia, um coelho gigante, é também o nosso guia.


A evocação de Alice e do seu mundo apodera-se do leitor nesta incursão pelo país dos sonhos.  Mas a ela se sobrepõe a maravilhosa revisitação  ao imaginário infantil, proposta por Liao, num tempo onde se esquecem segredos escondidos na floresta e onde a porta para o mundo dos sonhos está sempre ao alcance da mão.


A floresta, povoada de coelhos, revela-se um lugar mágico. Os medos da pequena protagonista, intuídos pelo leitor, cedem lugar à aventura e ao divertimento de todos. Aqui, abrem-se portas no céu, atravessam-se as nuvens e cavalga-se o vento. Os sonhos perdidos voltam a encontrar-se e é possível brincar com eles. 


Uma história repleta de poesia e com uma forte dimensão onírica, constantes, aliás, em toda a obra de Jimmy Liao. Segredos na Floresta foi o seu primeiro livro. Contrariando a  grande maioria do seu trabalho,  onde a cor assume papel de relevo,  este é um livro a preto e branco,  pincelado de cinzas e azuis. Mas nem por isso, menos fascinante. 


O despertar parece marcado pelo  silencioso afastamento do coelho gigante. Com a  realidade retorna a solidão.  As cidades sem sonhos são lugares tristes. Dando continuidade à partilha do seu universo interior e expondo o quanto é importante para si o sonho, é a pequena que informa o leitor: "Acho que vou sonhar outra vez". A enigmática inversão de alguns detalhes surpreenderá tanto o leitor infantil como o adulto.


Numa feliz opção, a Kalandraka optou por um livro de formato pequeno e capa mole para dar guarida aos segredos e aos sonhos. Os mesmos que nos levam de volta à  infância e à fantasia dos sonhos que um dia, também escondemos e esquecemos na floresta. Porque as cidades sem sonhos são lugares tristes para as crianças e para os adultos.