Debaixo da mesma Lua | Jimmy Liao | Kalandraka
Há onze anos escrevíamos aqui sobre o fantástico mundo de Jimmy Liao. Na altura, referíamos que o autor é "mestre em pintar sentimentos ou estados de alma. A solidão, a melancolia ou a esperança chegam até nós, leitores, através de um simples jogo de cores ou de uma carruagem vazia. O sentido ou dessentido da vida é o fio condutor que nos prende sofregamente a cada livro que descobrimos".
Neste caso, é em tons azuis e amarelos que Liao presenteia os leitores com mais um livro impregnado de beleza e de poesia. Ainda que a temática seja a guerra, a subtileza e a inteligência com que o autor construiu esta história fascinam leitores de todas as idades. Reafirmamos o que sempre dissemos a propósito dos seus livros: são um misto de arte e de poesia sem destinatário específico.
Num cenário quase imutável, um pequeno rapaz contempla a rua através da janela de sua casa. Sabemos que está à espera, mas não sabemos de quem. Pela postura corporal intuímos-lhe a nostalgia, a ansiedade e até uma certa solidão que sempre acompanham o acto de esperar.
A espera aparenta não ser em vão. A cada virar de página vemos chegar alguns visitantes. Um leão, um elefante, uma grua. Como que em modo premonitório, todos chegam feridos e a casa parece ser uma espécie de abrigo seguro onde procuram ajuda. O pequeno Han não se faz rogado, tratando-lhes as feridas com todo o cuidado possível e de forma afectuosa. Mas, no dia seguinte, volta ao seu posto de vigia como que revelando ao leitor que cada visitante não passa de um acaso. Não era deles que estava à espera.
Neste lugar só a lua que nos revela a passagem do tempo e nos confere uma noção da persistência do pequeno protagonista. Nem o seu gato consegue ombrear com tamanha resistência. Sabemos que não está sozinho em casa. Sempre que recebe um visitante, o pequeno grita para avisar a mãe. Mas o leitor só a conhecerá no final da história.
Nunca saberemos quanto tempo passou. Mas a espera é sempre movida a esperança e o surpreendente final que Liao imaginou é revelador disso mesmo. Uma delicada, subtil e fascinante história sobre os infortúnios de uma guerra e de como eles nos podem atingir a todos. A lua é a mesma, mas a cor do céu não é igual para todos.
Lindas ilustrações!
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