segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Contos de Encantar


São textos jubilosos sobre o amor, o nascimento e o desfazer da solidão. Sendo Cummings quem é, há a tendência para ler mais do que lá está escrito e cada um fará como quiser. A alegria da linguagem, as tentativas e os avanços rituais, próprios da literatura de encantar, são, porém, um valor absoluto que dispensa outras interpretações.
As palavras são da escritora Hélia Correia que, para além da tradução, assina também o prefácio.


Sendo Cummings quem é, não será propriamente no público mais jovem que pensamos quando falamos do seu nome. Mas, à semelhança de outros nomes grandes da Literatura, também ele não resistiu a uma incursão pelo mundo da infância. São quatro as histórias que terá escrito para a sua filha Nancy, que só viria a saber do verdadeiro grau de parentesco entre ambos já na idade adulta. Em 1965, três anos após a morte do poeta, as histórias foram reunidas e publicadas com o título Fairy Tales. Para as ilustrar, foi escolhido o artista canadiano John Eaton.


Recentemente, chegaram a Portugal, com o título Contos de Encantar, pela mão da Ponto de Fuga. Uma pequena editora com um grande trabalho, apostada em presentear-nos com livros de vultos da literatura, dedicados aos mais jovens. O Mundo é Redondo,  de Gertrude Stein, de que falámos aqui,  A Árvore dos Desejos, de William Faulkner, O Homem de Ferro e  A Mulher de Ferro, de Ted Hughes são alguns dos títulos do catálogo.


Depois de  O Mundo É Redondo, de Stein,  Rachel Caiano volta a ser a eleita para ilustrar os contos de Cummings. O leitor apanha boleia nas asas do seu traço delicado para sobrevoar um universo feito de palavras doces e mágicas, onde todos  sonhamos ser criança e imaginamos habitar  nem que seja por um só dia. Com uma paleta de três cores, laranja, azul e preto, Caiano transporta pequenos e grande leitores com um prazer estonteante pelos textos que Hélia Correia designa de jubilosos sobre o amor, o nascimento e o desfazer da solidão.


O velho que perguntava "porquê" é a primeira das quatro histórias. Conta-nos que Silfo, um ser que durante milhões de anos  viveu tranquilo e feliz sem envelhecer na mais longínqua das estrelas, um dia teve de usar as suas asas douradas e voar toda a noite, milhões e milhões de quilómetros até à lua. Era lá que estava o homem muito velho, de olhinhos verdes, grande barba branca e mãos tão delicadas como as de uma boneca, que nunca parava de perguntar porquê e de quem todos os vizinhos se queixavam. Um velho muito velho na idade dos porquês? Leiam, leiam a história.


Era uma vez um elefante que não fazia coisa alguma o dia todo. Um dia, avistou uma borboleta que ia toda feliz da vida a bater as asas ao longo da estrada caracoleante que ia dar a sua casa.  É o fim de uma vida solitária e o inicio de uma maravilhosa amizade. O Elefante e a Borboleta é uma história magnífica que nos faz ter vontade de subir e descer a estrada caracoleante muitas vezes.
Era uma vez um a casa que se apaixonou por um pássaro. Começa assim o terceiro conto, A casa que comeu tarde de mosquito. Ninguém consegue imaginar o quanto a casa se sentiu feliz quando de súbito a minúscula criatura voadora pousou mesmo ao lado dela e lhe perguntou: Posso ir viver dentro de ti?"


A menina chamada Eu é o quarto e último conto. Depois de muitos encontros e convites para tomar chá, Eu conhece outra menina como ela, chamada Tu. Uma história  deliciosa e divertida, que leva miúdos e graúdos a tentar adivinhar as respostas às perguntas que vão surgindo. Não resistam, encantem-se!

1 comentário:

  1. Parabéns pelo trabalho fantástico!Na próxima vez que formos a Sintra, iremos sem dúvida fazer uma visita à vossa biblioteca :)

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