sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

A Água e a Águia


Não se escreve para crianças. Teremos, apenas, idade para viver em história.
As palavras são de Mia Couto e voltam-nos à memória a cada nova história. A Água e a Águia, o mais recente livro do escritor, surge como uma fábula que pode ser habitada por todos, independentemente da idade.


O começo da história incita o leitor a uma viagem pelo tempo. Os mais pequenos enchem-se de interrogações à primeira frase.  Aconteceu quando ainda não era vez nenhuma.
Num tempo em que as águias eram donas do mundo e o bater das suas asas era o único ponteiro do tempo.


Numa doce toada, um texto poético conta como o voo das águias fazia ondear a água, enquanto o rio disputava o reino dos pássaros. A água é um elemento recorrente nos livros de Mia Couto. Esta não é a primeira história onde a chuva se esquece de acontecer.
Sem chuva, o rio acabou por emagrecer. Chegaram as doenças, a morte, a tristeza... 
As águias souberam que tinham de fazer alguma coisa. Primeiro, começaram por comer o i do seu próprio nome e a palavra águia transformou-se em água. Depois... depois as águias e as letras chamaram a si a solução do problema.



As ilustrações têm a assinatura de  Danuta Wojciechowska, sendo esta uma parceria que os leitores já conhecem bem. Para trás estão O Beijo da PalavrinhaO Gato e o EscuroA Chuva Pasmada, que podem ver aqui, O Menino no Sapatinho, todos publicados pela editora Caminho.
Com uma paleta de cores quentes e fortes, a ilustradora confere seu cunho inconfundível às palavras do escritor. Palavra e imagem parecem unir-se num jogo de movimento e cor, voando a um só tempo.


A nossa sugestão é que vivam na história. Uma ou muitas vezes. Contem às crianças que a Terra aprendeu a ler muito antes de nascer o primeiro livro. Falem-lhes sobre a caligrafia da Vida.

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