sexta-feira, 16 de novembro de 2018

O Estranho


Em jeito de parábola, ignorância e preconceito passeiam-se de mãos dadas por esta deliciosa história. Mais actual do que nunca, O Estranho, de Kjell Ringieditado recentemente entre nós pela Bruaá, foi publicado pela primeira vez há cinquenta anos.


Um livro que, na sua essência, nos traz à memória O Homem da Lua, a genial história de Tomi Ungerer, de que falámos aqui. A propósito, escrevemos: Perante o desconhecido, o diferente, assistimos àquilo a que, em linguagem infantil, se poderia chamar o desfile de uma parada de "tótós"... 


No país onde chega este estranho, de quem o leitor só vê praticamente o pé quase até ao final do livro, as coisas não são diferentes. O alvoroço e a agitação sucedem-se. O que faz um rei perante tamanha ameaça? Toma medidas, pois claro.  Conselheiros, diplomatas, exército... Tudo é chamado.


As medidas tomadas pelos pequenos homens parecem ter a sua dimensão... Um guarda monta vigia durante a noite, uma caricata montanha de diplomatas enceta malogradas tentativas de  diálogo e o mensageiro, enviado pelas tacanhas criaturas, nem sequer regressa... Um episódio  que tem tanto de mordaz quanto de hilariante.


Nada parecia demover o estranho, que teimava em não ir embora. O rei já não tinha dúvidas. O assunto só se resolvia com intervenção militar.  Chegaram as ameaças, mas nada aconteceu. Da teoria à prática foi um pequeno passo e a hora da artilharia pesada não chegou a tardar. O final da história, que vocês não resistirão a desvendar, apanha de surpresa os próprios leitores. 


O simbólico confronto entre as gigantescas dimensões deste estranho e a pequenez dos anfitriões não escapa aos leitores mais pequenos. Visitem o livro na sua companhia. A única coisa que eles poderão não entender é o facto de esta genial caricatura contar já meio século de existência.

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