quarta-feira, 14 de maio de 2014

Isto e Aquilo no Brasil

O universo da literatura infantil brasileira traz-nos à cabeça uma imensidão de nomes. Cecília Meireles, Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Maria Lucia Amaral, Lygia Bojunga Nunes, Pedro Bandeira, Tatiana Belinky, Maurício de Sousa, Eva Furnari, Marina Colasanti,  Ângela Lago, Fernando Vilela, Ziraldo, Renato Moriconi, Odilon Moraes, Daniel Bueno,  Roger Mello e tantos, tantos outros... Saravá! Hoje, escolhemos alguns livros que nos acompanham há mais de vinte anos.


As páginas já estão soltas, a cor parece ter sido  saboreada pelo tempo vezes sem conta e o cheiro do papel velho tresanda. Ou Isto ou Aquilo, de Cecília Meireles, é um livro que tocamos sempre com carinho

Ou Isto Ou Aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol 
ou se tem sol e não se tem chuva! 

       Ou se calça a luva e não se põe o anel, 
       ou se põe o anel e não se calça a luva! 

      Quem sobe nos ares não fica no chão, 
      quem fica no chão não sobe nos ares! 

     É uma grande pena que não se possa 
           estar ao mesmo tempo nos dois lugares! 

                Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, 
     ou compro o doce e gasto o dinheiro. 


     Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... 
e vivo escolhendo o dia inteiro!

    Não sei se brinco, não sei se estudo, 
se saio correndo ou fico tranquilo. 

Mas não consegui entender ainda 
   qual é o melhor: se é isto ou aquilo.

       
Em 1969,  Neil Armstrong chegava à lua e  Ziraldo tornava-se um dos autores brasileiros mais conhecidos, com aquele que ainda hoje é considerado, por muitos,  um livro de culto, Flicts.
                                             

Flicts é uma cor. Diferente de todas as outras, cedo descobre que não existe no mundo nada que seja Flicts. Enfrentando a  rejeição e a indiferença, procura, em vão, um lugar onde possa pertencer.


Mas um dia Flicts parou de procurar. Olhou para bem longe, subiu, subiu e ... encontrou-se. Nem todos saberão, mas a Lua é Flicts. O próprio Neil Armstrong o confirmou...


Um livro de sempre, que marca o lugar de  Ziraldo na história da  Ilustração e  da Literatura Infantil.

Ilustraçoes do livro Meu Amigo, O Canguru

Em 1982,  Lygia Bojunga Nunes recebeu o Prémio Hans Christian Andersen, o maior galardão da literatura infantil. Em 2004, volta a ser distinguida internacionalmente, com o Prémio Alma.  A Bolsa Amarela conhece mundo.


A escrita de Bojunga é maravilhosa. A sua caraterística mais marcante é a naturalidade com que opera a fusão entre realidade e fantasia. Nos seus livros, os limites entre o real e o imaginário parecem inexistir. Escrito nos anos 80,  A Bolsa Amarela  transporta-nos para o universo de uma criança e dos problemas por ela vivenciados. Única criança da casa, já que os irmãos são todos mais velhos,  Raquel sente-se  só,  ignorada e, não raro, rejeitada.  Decide, por isso,  começar a escrever aos amigos imaginários. Para além da vontade de ser grande e de ser homem, sonha ser escritora. Esta é a forma que encontra para treinar. 


Quando recebe a bolsa amarela de presente, ela rapidamente se transforma na morada de todos os seus sonhos e segredos. O destino da bolsa está traçado: casa de dois galos, de um alfinete de fralda e de uma guarda-chuva. Mas também de muitas histórias.  Um livro fascinante, onde o jogo entre o real e o imaginário é interminável. Mas, onde os diálogos não deixam de nos despertar para questões bem reais do contexto social,  sempre presentes na escrita da autora. Com quase  trinta anos de existência, A Bolsa Amarela continua a encantar os hipopótamos mais pequenos e a estimular-lhes a imaginação.

E porque esta semana falamos do Brasil, iremos estar à conversa com Renata Bueno, a única ilustradora brasileira presente na última edição da Ilustrarte.



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