quarta-feira, 19 de maio de 2021

O Jardim























A premiada autora australiana Anna Walker chega a Portugal pela mão da editora Fábula.  O Jardim assinala a estreia, entre nós, da autora de êxitos como Peggy ou Mr.Huff. Conhecida pelo  seu gosto pela aguarela, Walker conquista leitores de todas as idades com as suas ilustrações. Neste livro, brinda-nos com o magnífico contraste entre o verde vibrante do jardim, que começa logo nas guardas, e a suavidade, ou mesmo palidez, das ilustrações atravessadas pela nostalgia e saudade vividas pela protagonista.















Mudar de casa e de rotinas, deixar para trás amigos, adaptar-se ao que chega de novo... Nem sempre é fácil para os mais novos. O que nos relembra a história recente de um menino de cinco anos que em abril se mudou com a família do campo para a cidade. Numa altura em que nos visitou, disse-nos que este ano não havia "25 de abril " porque a mãe já não tinha tido tempo para plantar a revolução. Tudo porque na nova casa não havia jardim, nem tão pouco os inúmeros cravos vermelhos que sempre tinham existido na antiga. 






Quando Ema, a menina da história, se muda com a família para a cidade, tudo o que ela mais quer levar consigo é, precisamente, o seu jardim. Ainda que a mãe lhe dissesse que podia sempre plantar um novo jardim, a menina não via onde poderia fazê-lo. No meio de todos aqueles prédios, não havia caminhos labirínticos ou esconderijos feitos de folhas, nem macieiras que servissem de casa ao chilreio dos passarinhos. Era um lugar onde não havia nada para apanhar para o seu frasco dos tesouros. E onde não estavam os amigos.























Sem que alguma vez tenha visto o jardim de Ema, o leitor facilmente o imagina. Povoado de macieiras, de narcisos, de margaridas... Ouvimos o chilrear dos pássaros, vemos as borboletas, seguimos as joaninhas e os dentes-de-leão... Através dos deliciosos desenhos com que Ema enche as  caixas de cartão que serviram de apoio à mudança, dos piqueniques que organiza em casa e dos desenhos com que deixa colorido o empedrado à sua porta, Walker transmite-nos as saudades sentidas por Ema. Da anterior casa, do seu jardim, do contacto permanente com a natureza, das suas brincadeiras, dos seus amigos. E, em simultâneo, vai consolidando o nosso conhecimento sobre a menina que escolheu para protagonista.




Mas as caixas vão desaparecendo e os desenhos da rua são levados pela chuva. A alegria parece continuar afastada de Ema até ao dia em que escuta algo que lhe é familiar: o bater das asas de um passarinho do campo. A corrida que enceta atrás dele leva-a até um lugar encantado que ela já não acreditava que existisse na cidade. Estava fechado, mas a longa espera a que se determinou fez com que reparasse nalguns pequenos detalhes. Daqueles que, por vezes, nos escapam. Foi assim que encontrou o pequeno rebento verde que daria início ao seu novo jardim. Um jardim bem florido com plantas e amigos. Visitem-no! 

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