segunda-feira, 16 de novembro de 2020

O Bolero de Ravel. E se ler um livro por dia fôr uma vacina contra a pandemia?

Não somos cientistas, mas acreditamos que ler um livro por dia pode ser uma vacina contra a pandemia. Escolher o lugar e o tempo certos para viajar à boleia de um livro é um acto de sanidade mental. É um conforto para o corpo e um aconchego para a alma. Em dias de confinamento, ler com e para as crianças é levá-las a passear. Entre histórias, percorrem outros lugares, conhecem outras vidas, habitam novos mundos. Dito de outra forma, saem de casa. 
Para os que não são praticantes e se atrevam a experimentar, este pode tornar-se um novo hábito para amenizar os dias estranhos e pesados que vivemos. Os que já são leitores, conhecem bem as vantagens da receita. Em jeito de calendário adventício antecipado, uma vez que o nosso é sempre feito de livros, deixaremos aqui, até ao Natal, uma sugestão diária de leitura. Com as nossas ou outras sugestões, este Natal, escolham livros. Visitem uma livraria independente perto de vocês e ofereçam livros. A miúdos e graúdos. Boas leituras! 
1. O Bolero de Ravel, de José Antonio Abad Varela e Federico Delicado | edição Kalandraka.

Composto em 1928, a pedido da bailarina russa Ida Rubinstein, o Bolero tornar-se-ia a obra mais famosa do compositor francês Maurice Ravel. Ao contrário do que poderia pensar-se, por se tratar de uma música repetitiva e exclusiva para orquestra, a fama e a popularidade uniram-se em torno da obra. 


Música, maestro! Ponham o Bolero de Ravel a tocar. Entrem na vila onde a orquestra convidada se prepara para atuar e deliciem-se com o espectáculo. Os músicos acabaram de chegar e estão por todo o lado. Como uma delicada e bela partitura, cada página apresenta-nos um instrumento e os seus músicos. Mas esta não é uma orquestra qualquer. A escolha dos protagonistas recai sobre animais oriundos de algumas espécies ameaçadas de extinção. Delicado humanizou-os e desenhou-os de forma imaculada. Texto e ilustrações convergem numa desconcertante e tocante harmonia, proporcionando aos leitores um concerto inesquecível.


Delicado, cujo livro mais conhecido entre nós é Ícaro, obra vencedora do VII Prémio Internacional Compostela para Álbuns Ilustrados, é um daqueles artistas de quem costumamos dizer que pintam os silêncios e nos envolvem na sua musicalidade com absoluta magia. Em O Bolero de Ravel, música e silêncios respeitam-se com uma mestria capaz de nos fazer ouvir o timbre da cada um dos instrumentos, numa magistral orquestração.





Um livro que se revela um sóbrio festim de cores e luz que irradiam de cada recanto da vila.  Este é um concerto que, seguramente, vai deslumbrar leitores de todas as idades. Não imaginamos melhor forma de iniciar as crianças na aprendizagem dos instrumentos musicais de uma orquestra, nem de a música vos entrar em casa este Natal. Não deixem a orquestra partir sem dançar ao ritmo do Bolero. Não deixem de fazer parte. Repetimos, de um concerto único e inesquecível.



 Num ano tão negro, esta é, indiscutivelmente, uma das escolhas dos Hipopómatos.


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