quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Os Vizinhos. Regressamos em boa companhia.



Boa vizinhança é o que todos queremos, ainda mais no contexto atual. As distâncias são para manter, os beijos e os abraços são para evitar, mas a verdade é que vivemos cada vez mais perto uns dos outros. Se é certo que não andamos por aí a entrar em casa uns dos outros, nada impede que, por vezes, até tentemos imaginar como vivem aqueles com que nos cruzamos diariamente. Isso é o que faz, de forma invejável, a protagonista desta história de autoria da israelita Einat Tsarfati, editada entre nós pela Fábula.


A pequena vive num prédio de sete andares, habitando o último. Enquanto sobe a escadaria, vai mostrando as portas, todas elas diferenciadas por alguns elementos que lhe alimentam a imaginação e a fazem adivinhar a vida para lá delas. É uma visita guiada que deleita pequenos e grandes leitores.


Os pormenores que lhe alimentam a curiosidade e a imaginação são tão fabulosos quanto surpreendentes. Cheiros, sons, pegadas de lama, "montes de fechaduras"... levam a pequena a adivinhar o que se passa no interior de cada habitação. O que o leitor espreita a cada andar é um festim para os olhos e para os sentidos. À medida que entramos e saímos de cada casa, vamos desejando que o prédio tenha o dobro dos andares.


A imaginação da nossa protagonista não tem limites e encontra-lhe uma extraordinária e peculiar vizinhança. Gatunos, caçadores, acrobatas, vampiros, piratas... Este é um prédio onde todos queremos morar! A correspondência que ela estabelece entre os detalhe das portas e a vida para lá delas é hilariante e contagia-nos ao ponto de tentar adivinhar, também, quem vive nos andares seguintes. Mas, dificilmente, o leitor conseguirá acompanhar a sua prodigiosa capacidade de adivinhação.


A porta com "montes de fechaduras" é a morada de uma exuberante família de gatunos, as pegadas de lama antecedem a casa de um velho caçador e do seu tigre de estimação...Para cada um, Tsarfati pinta e recria um maravilhoso mundo rico em detalhes e assente numa parafernália de objectos e cores. Num registo que nos lembra o trabalho de Benjamin Chaud e onde andar à procura de Wally não seria hipótese descabida, o humor existe em quantidade avultada.


Mas é no sexto andar, a um lance de escadas da sua casa, que a pequena sempre se demora mais. Fica a ouvir o som de "música muito fixe". É lá que os leitores conhecem uma admirável família de músicos que festeja os anos de alguém pelo menos uma vez por semana. 


Então e a casa dela? Perguntarão vocês, agora que chegámos ao sétimo andar. Aparentemente, trata-se de uma casa "normal". E até parece que,  contrastando com tão ilustre vizinhança, os pais "são uma grande seca". Será? 
Vão até lá com as crianças, surpreendam-se e divirtam-se em casa destes vizinhos de alto gabarito. Este é um livro onde não vão querer deixar de entrar. De abrir todas as portas. Muitas vezes. 

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