sexta-feira, 15 de maio de 2020

1.º Direito. Uma Janela Indiscreta?


A história nasceu antes de estarmos todos em casa. Mas, nos dias que correm, não devem faltar por aí janelas indiscretas. Esta é a da Graça, a miúda que protagoniza uma história com contornos policiais e alguma intriga à mistura. Com texto de Ricardo Henriques e ilustrações de Nicolau, 1.º Direito é uma produção Pato Lógico.


É a própria Graça que nos conta a história. Em jeito de cartão de visita, ficamos a saber que a protagonista ocupa os seus tempos livres com observação de pessoas. Que, da sua janela, vê as vidas em frente como se fossem canais de televisão.


Para a pequena observadora de pessoas, a vida dos  que vivem no prédio da frente parece transparente. Graça ocupa o seu posto tanto de dia como de noite. As rotinas dos vizinhos são sobejamente conhecidas. Isto seria inteiramente verdade não fosse o mistério do novo habitante do 1.º direito. 


Perspicaz como é, a Graça não restam muitas dúvidas. O homem mudou-se para ali há pouco tempo e entre o tempo que perde a olhar para o infinito e o que vai escrevinhando, planeia, no mínimo, um assalto. Agitação não vai faltar por aquelas bandas, porque a convicção da dona da janela indiscreta é que se trata, seguramente, de um criminoso. 


Pelo meio, o leitor aproveita a boleia e torna-se companheiro de Graça na sua janela. Entra em várias casas e torna-se próximo daquela gente. A hospedeira do 1.º esquerdo, o músico do 2.º esquerdo, o casal de advogados do 2.º direito, a Dona Camomila...


As visitas estendem-se ao Café Dias e à Barbearia ao lado... Acompanhamos a azáfama do bairro. As conversas tornam-se familiares...
Nem todos são fãs da ocupação de tempos livros escolhida por Graça. O pai, por exemplo,  aconselha-a a parar de coscuvilhar a vida das pessoas do bairro e a dedicar-se a vidas mais importantes como as de Picasso ou Eusébio... Mas a miúda não concorda. No seu entender, não coscuvilha, faz people watching.



Um livro cheio de humor, onde a magnífica paleta de cores quentes escolhida por Nicolau parece ajudar a adensar o mistério. A parafernália de detalhes é digna de um verdadeiro policial. Ao que parece, ligeiramente influenciado por outra janela indiscreta, a de Alfred Hitchcock. Mas será que, neste bairro, Graça é a única "observadora" da vida dos outros? E o homem do 1.º direito será mesmo um assaltante? Entrem no bairro, abram a janela e descubram! Vale a pena.

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