quinta-feira, 26 de março de 2020

Oliver Button É Uma Menina


A velha máxima de que o mundo é uma aldeia parece desajustada nestes tempos difíceis que vivemos. O mundo é agora uma casa. A nossa casa. Dentro dela, necessitamos de alguns recursos para combater a rotina, o tédio, os receios... Nunca será demais afirmar que os LIVROS são armas preciosas de combate, agora ou no futuro, a todos os males que sempre atravessam o mundo. 
Ainda que o momento não seja para festas, hoje queremos festejar e partilhar com vocês a chegada do premiado e acarinhado autor americano Tomie DePaola e do seu Oliver Button é uma Menina. E agradecer à editora Kalandraka.


DePaola é um autor aclamado que conta com uma obra com mais de 250 livros. Strega Nona, que lhe valeu a Medalha Caldecott,  é talvez o seu livro mais conhecido, mas Oliver Button é uma Menina, editado pela primeira vez em 1979, e que continua hoje tão actual como há quarenta anos, é uma preciosidade. As deliciosas ilustrações reportam-nos para uma infância longínqua e relembram-nos, desde logo, o universo sendakiano. Seis anos mais novo que Maurice Sendak, as semelhanças entre as obras sempre existiram, mas não retiram a identidade e a sensibilidade únicas que caracterizam a obra de DePaola.


A história calcorreia território biográfico, contando que o pequeno protagonista contraria a "normalidade" das coisas, preferindo brincar com bonecas, saltar à corda, ler ou desenhar, em detrimento dos jogos de bola e outras brincadeiras mais comuns nos rapazes. 


Facilmente previsível, tais características não fazem de Oliver um rapaz popular. Antes, um alvo de toda a espécie de gozo e crueldades por parte das outras crianças. Se pensarmos que Oliver nasceu há mais de quarenta anos, isso é revelador de algo que todos sabemos. Que o fenómeno hoje conhecido como bullying é tão velho quanto os preconceitos que estão na sua génese.


Ao inferno do dia a dia, grafitado nas próprias paredes da escola, junta-se o desconforto dos que o amam, mas não sabem muito bem lidar com as "diferenças". A tudo isto, Oliver contrapõe a determinação e a coragem de quem sabe o que quer e continua acreditando nos seus sonhos. A escola de dança e uma professora que lhe reconhece o talento abrem-lhe as portas a uma existência diferente. O amor incondicional dos que lhe são mais próximos e a aceitação dos seus pares acabam por chegar. Porque Oliver tornou-se uma estrela.


Oliver Button chegou até nós quarenta anos depois da sua primeira publicação. Num tempo em que a vida parece tudo, menos "normal". Talvez isso nos possa levar a reflectir com os mais pequenos sobre os nossos comportamentos relativamente ao que convencionámos chamar de "normalidade". Até porque nem todos os Oliver(s) do mundo chegam a estrelas.


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