quarta-feira, 13 de novembro de 2019

De Coração Aberto e Cabeça Desanuviada... nas Novidades da Fábula


Bem podem as pernas ser longas e o coração estar aberto a tanta novidade. Depois, é tudo uma questão de cabeça... São muitas as novidades com que, mês após mês, a Fábula brinda os seus leitores. A americana Corinna Luyken, autora de O Livro dos Erros, está de volta com mais dois livros. O Meu Coração, de que é autora de texto e ilustração e O André Semeão Não Tem Um Cavalo, onde assina as ilustrações. A colecção Pé de Pato, agora com um figurino de capa dura, revisita-nos com mais dois títulos: Sou do Tamanho do Que Vejo, Antologia de Poesia de Fernando Pessoa, com ilustrações de Jaime Ferraz A História do Esperto e Outras Histórias de Ana Castro Osório, ilustrado por Luís Manuel Gaspar. A dupla Nadine Brun-Cosme (autora de Lobo Grande & Lobo Pequeno) e Aurelie Guillerey, que já conhecemos de Papá das Pernas Longas, volta com Artur e as Pessoas Muito Apressadas.



Ainda colada às nossas mãos está a novidade mais recente, A Tua Cabeça é como o Céu de Bronwen Ballard e Laura Carlin, ilustradora  premiada e com um trabalho que muito gostamos. The Iron Man, com texto de Ted Hughes, talvez seja o seu livro mais conhecido, mas The Promise, King of the Sky, ambos em parceria com Nicola Davies ou A World Of Your Own, em que assina texto e ilustração, são alguns dos livros fantásticos que habitam a Casa dos Hipopómatos. Foi, pois, com a cabeça bem azul e sem nuvens que festejámos a sua chegada.



A tua cabeça é como o  céu. 
Às vezes está azul e sem nuvens. 
Outras vezes está nublada, 
e tempestuosa 
e escura 
e prestes a rebentar.
Muitas vezes
está só
um bocadinho cinzenta.

Ballard, a autora do texto, é psicóloga e acredita que a prática do mindfulness ajuda as crianças a lidar melhor com os seus pensamentos, a entender com mais naturalidade o que lhes passa pela cabeça, compreendendo que até os sentimentos mais negativos são normais. Tanto, quanto o céu estar azul, cinzento ou negro. Para quem ainda não ouviu falar de mindfulness, podemos dizer, de forma simples, que se trata de uma "prática mental", com origem no budismo, que ensina as pessoas a lidar com os pensamentos e as emoções, levando-os a entender que nem todos se virão a concretizar, de nada valendo o sofrimento por antecipação. Como escreve Ballard, que no fim do livro deixa algumas propostas para os adultos praticarem com as crianças, quando praticamos mindfulness começamos a perceber que embora os nossos pensamentos possam parecer reais, não são mais do que meros pensamentos, e não precisamos de segui-los sempre para onde nos tentam levar.


Na linguagem metafórica e algo poética que estrutura todo o livro, a cabeça é como o céu e os pensamentos são como as nuvens. As brancas, fofinhas e bonitas correspondem, obviamente, aos pensamentos positivos. As frases são inteligentemente escolhidas. “Olha o que eu consigo fazer”, que tantas vezes ouvimos às crianças é um dos exemplos apontados. Ao contrário, quando pensamos algo como “Eu não percebo nada disto" ou “ Nunca vou conseguir fazer isto bem”, os pensamentos são como nuvens chuvosas, escuras e feias.


Os destinatários estão identificados à partida. Tratados por tu, tudo lhes é explicado num discurso directo e de proximidade. 
Ou então podes experimentar este truque inteligente . Quando um pensamento parecido com uma nuvem chuvosa aparecer na tua cabeça , podes dizer: "Oh! É um pensamento que parece uma nuvem chuvosa". E depois repara em todos os pensamentos parecidos com nuvens brancas e fofinhas.



Afinal, cada pensamento é só um no meio de centenas e milhares de outros pensamentos que podemos ter.  Se se trata de uma nuvem chuvosa, talvez a possamos deixar flutuar para longe até desaparecer... São várias as sugestões para lidar com o que pode vir a transformar-se num problema. Há pensamentos grandes e barulhentos, pensamentos pequenos e silenciosos, pensamentos rápidos e apressados, e outros um bocadinho assustadores... Talvez o truque seja mesmo ver o céu todo para podermos escolher quais os pensamentos a que queremos prestar mais atenção.



O trabalho de Carlin tem sempre algo de nostálgico, de infinitamente contemplativo e este não foge à regra. Aguarela, acrílico, lápis de cor, são alguns dos materiais que utiliza na obtenção de paletas de cores que têm tanto de suaves quanto de harmoniosas. Os jogos de sombras e os desenhos algo difusos, em jeito de esboço, parecem ter o dom de nos levar por uma infância que não queremos largar.
Queiram ou não praticar mindfulness, com ou sem crianças, com maior ou menor meditação, este é um livro onde devem entrar. E onde vale a pena demorarem-se.

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