domingo, 27 de janeiro de 2019

Rosa Branca




27 de janeiro, dia dedicado à Memória das Vítimas do Holocausto. Para muitos, ao longo da vida, um dia feito de todos os dias. Hoje, parece cada vez mais necessário lembrar aos mais novos que o Holocausto existiu. Só o conhecimento poderá evitar que se repita. Por isso, voltamos a falar deles, dos livros que nos ajudam a manter viva essa memória.


Depois de A História de Erika, a editora Kalandraka trouxe, finalmente, para Portugal um dos livros mais conhecidos sobre o Holocausto, Rosa Branca, de Christophe Gallaz e Roberto Innocenti. Comum a ambos, é, certamente, a pretensão de consciencializar os seus leitores para que tal tragédia nunca mais se repita.



A singularidade de Rosa Branca reside no facto de a história ser contada a partir do testemunho de uma criança alemã. Guiados pelos seus olhos, os leitores penetram no cenário de guerra e dos horrores que marcaram a Alemanha nazi.



Tudo começa quando Rosa vê um rapazito saltar de um camião tentando a fuga,  interrompida pela pronta intervenção do  presidente da Câmara e dos soldados que se encontravam por perto. O acontecimento não deixou de parecer inusitado aos olhos de outra criança, tendo despertado toda a sua curiosidade. A menina acaba por seguir os camiões e, incrédula, descobre alguns dos horrores que se praticam no lugar onde vive. A poucos metros da sua casa, Rosa encontra o que ninguém parece querer ver, mas que é visível para todos. Crianças como ela, presas atrás de arame farpado. O olhar mais atento de Rosa encontra as diferenças. Pálidas e magras, marcadas com uma estrela amarela, aqueles meninos mais parecem feitos de papel do que de carne e osso. 


Com a inocência de uma criança, Rosa escuta o silêncio em volta mas não pode pactuar com a situação. A partir desse dia, passa a ter um segredo só seu, guardado a sete chaves. Diariamente, percorre o mesmo caminho para levar aos novos amigos toda a comida que consegue esconder na sacola.
Um dia, os soldados que chegam à sua terra são outros. Rosa encontra o campo de concentração vazio. Os amigos já lá não estavam. Ela era apenas uma criança. Mas a guerra é cega para todos os lados. Nesse dia, o caminho de volta não se fez.



Como é seu timbre, as assombrosas e hiper-realistas ilustrações de Innocenti, revelam cada detalhe de um  tempo e de um lugar palco de todas as atrocidades. Da vitória à derrota do nazismo, o leitor revive a História vezes sem conta. O nome de Rosa Branca é uma homenagem ao mais conhecido movimento de resistência alemã, iniciado pelos irmãos Scholl, em Munique. Foram muitos os estudantes que acabaram executados pelos nazis, mas a sua maior herança permaneceu. Mostrar à humanidade que nem todos os alemães foram cúmplices dos horrores com que a Alemanha de Hitler escreveu a história. Afinal, essa é, também, a herança de Rosa, a menina que usa uma fita no cabelo da mesma cor da suástica, mas que representa o que de mais antagónico poderia existir. Porque a inocência de Rosa é igual à de qualquer outra criança, independentemente da nacionalidade ou da raça. Esta é uma história para partilhar com os mais novos. Para lembrar.

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