quinta-feira, 16 de junho de 2016

Coisas de Manas

Não estranhem os leitores encontrar páginas riscadas, autocolantes colados ou desenhos rabiscados sobre as páginas deste livro: uma irmã mais nova passou por aqui... e deixou um rasto de destruição à sua passagem...


O aviso pode ler-se na contracapa do livro MANA, da autoria de Joana Estrela, vencedor do I Prémio Internacional de Serpa para Álbum Ilustrado e recentemente editado pelo Planeta Tangerina.


Não há muito tempo escrevemos aqui sobre O Que Aconteceu À Minha Irmã, editado pela Orfeu Negro. Uma deliciosa e divertida abordagem sobre a chegada à adolescência e o inevitável crescimento vistos, na perspectiva de uma irmã mais nova, convicta de que a sua irmã fora trocada. Por sua vez,  MANA é uma história narrada pela irmã mais velha, que surge em forma de carta endereçada à irmã à mais nova, retratada como um  ser extraterrestre que nem os "aliens" conseguiram aguentar por ser tão “chata”.


A narradora vai familiarizando o leitor com uma parafernália de tropelias que tipifica o comportamento da pequena e, no qual, muitos dos leitores acabam por se rever. Brinquedos partidos, livros riscados... o tal rasto de destruição para que fomos alertados. 


Escrita e ilustrada com grande dose de humor, a carta acaba por nos tornar íntimos das duas irmãs e permitir adivinhar, sem grande dificuldade, o batuque do dia a dia lá por casa. 


Ao mesmo tempo que nos elucida sobre a opinião da narradora em relação àquele estranho ser que, apesar de não saber falar nunca se cala, que apesar de ser a herdeira natural das suas roupas (onde já vimos isto???) prefere usar as do pai... As lutas, o olho por olho ou, se preferirem, o braço pelo dente são o espelho onde os mais pequenos, gargalhando, se vêem reflectidos.


A toada da carta acaba por ser inteligentemente marcada pelo crescente amenizar dos "conflitos latentes" entre ambas, subtilmente secundarizados pelo afecto e carinho que sempre acabam por falar mais alto. Para tal é determinante a partilha do dia a dia, dos objectos, dos sentimentos e até mesmo... da varicela. As afinidades são sempre em maior número do que as diferenças, à semelhança das histórias e das meias que acabam por misturar-se.


O próprio livro é o exemplo acabado, ao incluir também alguns desenhos de Mónica, esse o nome escolhido pela própria narradora para a irmã. Visualmente apelativo, com desenhos que fazem delirar os mais pequenos, com algumas piscadelas de olho à banda desenhada, fundos lisos, quadriculados ou de riscas ... A deliciosa mistura resulta numa magnífica e original história para pequenos (e grandes leitores) que, página a página, reconhecem o tanto da manta que vão pintando em casa. Coisas de todos os dias. Afinal, coisas de manas!


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