O livro é desconcertante e belo. Não só pela sensibilidade das temáticas abordadas, mas também pela forma encontrada pelo autor para o fazer. Tão importante como o que nos é contado é o que subentendemos. O que não está dito em momento algum, mas que o leitor depreende do princípio ao fim da leitura.
O Noé vive com o pai à beirinha do mar. Com o pai e seis gatos, que leitor algum resiste à tentação de localizar na fascinante casa e nas imediações. Uma espécie de jogo, logo no início do livro, que não faz esmorecer as primeiras interrogações.
Num dia tempestivo, Noé avista uma pequena baleia e, de imediato, sabe que tem de fazer alguma coisa para a salvar. O mar estaria certamente mais perto, mas a sua banheira confere-lhe outras garantias. Uma solução que parece agradar a ambas as partes.
A nova amiga, com quem pode agora partilhar a solidão dos dias, parece mostrar-se feliz com a proximidade e agradada com tudo o que ouve, desde a música às histórias do amigo. Este, por sua vez, não hesita em desfrutar cabalmente da companhia. Até porque sabe que a situação não será duradoura... O pai chegará a casa e ele teme a reacção.
O abrir da porta parece corresponder ao momento de viragem da história. Ao contrário do que Noé temia, o pai não se zanga. A imagem da baleia na banheira confere-lhe a verdadeira noção da solidão do filho e muito mudará na vida dos dois.
Ambos percorrem o caminho do mar para devolver a amiga baleia. Noé sabe que a viagem é tão inevitável quanto as saudades que vai ter dela. Mas esta não será uma viagem em vão, se atentarmos em tudo o que já ganhou. Aquele pai ausente, com ar distante e frio, semblante carregado que conhecemos no princípio da história, cede, agora, lugar a uma figura mais humana, capaz de gestos de ternura e atenta ao filho, presente em todas as páginas do livro.
As ilustrações de Benji Davies são magníficas, levando-nos a entrar na ilha e a viver intensamente cada momento da história, cuja força emocional resulta, sobretudo, do que não se refere em momento algum, mas se adivinha. A interrogação que percorre pequenos e grandes leitores: E a mãe de Noé?
Um livro belo e intenso, polvilhado de algum humor e muita inteligência, que nos faz aguardar a chegada do próximo!
Esse livro é maravilhoso!
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