quinta-feira, 4 de junho de 2015

Finalmente, O Pombo chegou!


Com mais de dez anos e sete milhões de livros vendidos, o Pombo azul chegou esta Primavera a Portugal, pela mão da Booksmile. E nós, que admiramos a rebeldia e a determinação da criatura, ficámos felizes com a sua chegada. Até porque chegou duas vezes


Mo Willems, o seu prestigiado criador, tornou-se conhecido (e premiado) como argumentista da inesquecível Rua Sésamo. Homem de vários ofícios,  é também criador de desenhos animados, autor e ilustrador. Os vários livros do Pombo, todos eles best-seller do New York Times, trouxeram-lhe o reconhecimento merecido. Por cá, existe um outro livro seu,  Leonardo, O Monstro Terrível, editado em 2010 pela Orfeu Negro.


O sucesso alcançado torna a pergunta inevitável. O que é que o Pombo tem? 
Tem muita lábia, uma forte persistência, uma candura desconcertante na forma como pretende impor a sua vontade e, até, uma razoável dose de irritabilidade quando percebe que não vai alcançar o que pretende. 


As semelhanças de comportamento com o público infantil não são pura coincidência. A identificação é rapidamente assimilada pelos pequenos leitores, que reconhecem no Pombo algumas das suas próprias artimanhas e expedientes.


A estratégia do autor é delineada logo no início de cada livro, assentando na responsabilização dos pequenos leitores, a quem um adulto atribui, por algum tempo, a tarefa de não deixar o Pombo fazer determinada coisa.
Não Deixes o Pombo  Guiar o autocarro!  
Não Deixes o Pombo Ficar acordado até tarde!  
                                                                                 

A tarefa apresenta-se de proporções gigantescas, só comparáveis às do poder de persuasão do Pombo, que tenta de tudo para levar a água ao seu moinho. Cada página configura uma piscadela de olho ao pequeno leitor, uma tentativa de o aliciar, um apelo à sua cumplicidade. 


Desistir não é palavra que conheça. Quando as manobras de charme parecem não resultar, abandona-as em prol de uma velha conhecida manobra de vitimização, que lembra, aqui e além, o injustiçado Calimero. Mas não se fica por aqui. Esgotados todos os recursos, o Pombo também se irrita e faz birras.


Com um estilo minimalista, as ilustrações mostram, quase sempre, um Pombo dono e senhor da totalidade da página, onde a cor do fundo vai mudando de acordo com o estado de espírito por ele evidenciado.



Sem se darem conta, os pequenos leitores assumem aqui um papel que, por regra, está reservado aos adultos. O Pombo ocupa o lugar que é deles e a que estão habituados. É nesta inversão que parece residir a razão do grande sucesso dos livros de Mo. Afinal, as crianças adoram desafios.


Não Deixem o Pombo a falar sozinho! Apresentem-no às crianças!

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