quarta-feira, 10 de junho de 2015

Black Dog ou чёрный пёс.


Todos os viajantes têm as suas manias. Nós pertencemos ao gang das livrarias. Já saímos com a lista feita. Chegamos a andar quilómetros para encontrar as casas onde moram os livros. Aquelas que julgamos imperdíveis.



Pelo caminho, descobrimos outras tantas. Que não estavam listadas. Livromania? Pode ser... 



Às vezes, ainda nos deparamos com uma casa cheia de livros onde também se pode saborear a gastronomia local. Um daqueles lugares onde o cheiro a comida se confunde com o cheiro dos livros... Ah, então temos um manjar dos deuses! Biblioteka? Mesa, por favor! 


Foi o que aconteceu, em Julho passado, quando estivemos em St. Petersburg. Enquanto andámos por lá, adoptámos este restaurante recheado de livros e de deliciosos sabores. E, não menos importante,  com preços bastante acessíveis. 



Viajar com crianças e pouca bagagem parece coisa impossível. Mas não é. Habitualmente, para além das mochilas, acompanha-nos uma mala quase vazia, à espera dos livros que conseguiremos trazer... Bisbilhotecamos tudo! Livros de rua, sebos, livros em primeira, segunda ou qualquer mão... O alfabeto cirílico não é propriamente a nossa praia, mas era impensável sair de terras russas sem trazer um livro! Livromania? Pode ser...


Entre Hipopómatos grandes e pequenos, foram muitas as pilhas de livros espreitados. Mas quando o vimos, soubemos que era ele! Era deslumbrante! Cada ilustração continha uma parafernália de detalhes, cada um mais magnífico do que o outro, que nos toldava os sentidos. A história? Entendemo-la toda, apesar de não percebermos "patafina" do texto. O nome do autor? Indecifrável. Mas havia algo de familiar...Teríamos de pesquisar. Livromania? Pode ser...


O ritmo de férias pode ser cruel e, com o livro já na nossa posse, não pensámos mais no assunto. A descoberta aconteceu já em casa... Afinal, tínhamos trazido um exemplar, em cirílico, do livro vencedor da Kate Greenaway medal, em 2013. Black Dog é o título original, da autoria do britânico Levi Pinfold. Só então percebemos porque nos era familiar.


É uma história sobre medos e a forma como os enfrentamos. Um cão preto, gigantesco e monstruoso é avistado lá fora. Um a um, todos os elementos desta família observam o animal. A cada relato, o cão parece ainda mais medonho e assustador. O medo é visível e todos querem esconder-se.   


A excepção é o elemento mais novo e pequeno da família (de nome Small, na versão inglesa). Corajosa e determinada, a pequena enfrenta a fera.  A conversa que mantêm parece frutuosa,  uma vez que o bicho se mostra convencido a segui-la. 


O caminho revela alguns obstáculos que vão sendo superados pelo temível monstro, enquanto a pequena vai implorando e desejando que se torne mais pequeno...
       

O uso que faz da escala, a colocação do texto em função do tamanho do cão, a sequência de cada cena em miniaturas de cor sépia são alguns dos pormenores fabulosos de que o autor lança mão. 


O realismo das ilustrações de Pinfold faz-nos entrar pela casa dos Hope, (é esse o nome da família), como se há muito os conhecêssemos. Cada detalhe é revelador dos hábitos e do estilo de vida dos pais e das três crianças. 


No final, o aplauso pela coragem da pequena heroína  é inevitável e a recompensa adivinha-se.


Um livro cheio de ternura e de humor sobre a forma como enfrentamos (ou não) os nossos medos, que muito gostaríamos de ler em português... Livromania? Pode ser, mas recusamos qualquer tipo de tratamento.


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