quinta-feira, 14 de maio de 2015

Aquele Abraço



Tudo o que Filipe quer é um abraço. Simples? Não no caso do Filipe, um pequeno cato, nascido no seio de uma antiga e ilustre família, pouco dada a manifestações de afecto.


Todos conhecemos uma ou outra família como a sua. Daquelas que gostam de parecer bem, que são sempre muito certinhas e nunca saem da linha. Onde não há lugar para abracinhos.


Filipe só quer um abraço! Mas, na sua família, os mais pequenos devem dar o exemplo, o que quer dizer ficar sossegado, e acreditar que um dia, vai subir na vida. Pelo menos, é o que dele espera a ilustre família


Filipe não podia achar tudo isto mais errado. Não queria ser exemplo para nada e mostrava-se pouco interessado em subir na vida. Tudo o que ele queria... era um abraço!


Acreditava que um dia seria possível. Quando, finalmente, encontrou um amigo,  um corajoso e confiante balão amarelo, o desejo de proximidade foi tal  que não mediu as consequências...


O escândalo rebentou. Público e espinhoso. A família de Filipe cobriu-se de vergonha e ele percebeu que aquele não era mais o seu lugar. 


Um livro com uma forte componente visual, onde as ilustrações contam uma parte significativa da história. Texto e imagens mantêm uma encantadora cumplicidade que se espelha nas subtilezas e no humor que os desenhos de Simona Ciraolo vão revelando. Exemplo disso é o facto do leitor cedo perceber que Filipe é um cato, sem que o texto alguma vez o mencione. 



Um inteligente jogo que começa na capa e se estende às geniais guardas, que dão guarida à árvore genealógica  da ilustre família e registam uma amizade, que parece perdurar bem para lá do final do livro. 


As expressões corporais e faciais ou o fabuloso  pormenor da flor cor de rosa que o pequeno Filipe tem na cabeça (sim, porque ele é um cato), e que desaparece nos momentos mais difíceis da vida, farão as delícias dos mais pequenos, que adoram partir à descoberta de cada detalhe.


Escusado será dizer que o nosso pequeno lutador continuou a ser objecto de rejeição até aprender a coabitar com a sua própria solidão. Mas continuava a querer o seu abraço! Um dia fez a descoberta que mudaria a sua vida e as flores na sua cabeça  multiplicaram-se.


Tal como o Filipe, os Hipopómatos adoram abraços. Por isso,  agradecem à Orfeu Negro este e outros  abraços que não esquecem.

Ilustração do Livro Burros, de Adelheid Dahimène & Heide Stollinger, editado em 2009.

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