sexta-feira, 24 de abril de 2015

Eu Acredito


David Machado parece determinado a aumentar o nosso índice médio de felicidade. Desta feita, numa preciosa parceria com Alex Gozblau. Eu Acredito é um daqueles livros que nos acompanha pela casa toda durante vários dias.


Eu acredito é o mote para a estrutura repetitiva do texto que, de forma metafórica e poética, a cada página desafia a memória de uma infância já vivida e desperta a magia de algo que está por acontecer.


Uma magia espelhada e redimensionada nas ilustrações de Gozblau, que nos conduzem por um universo misterioso e algo fantasmagórico. À semelhança do protagonista, nunca deixamos de procurar o que suspeitamos estar escondido.


O menino que acredita é um menino que, às vezes, parece homem.  Enverga roupas que não são de agora e vive rodeado de móveis e objectos de um indecifrável passado. Por companheiro, tem um gato preto. Com eles, visitamos um tempo que, tal como a crença, não tem idade.


O gato parece assumir papel de mero espectador, quase sempre adoptando a mesma postura do rapaz, mas há momentos em que se nos afigura a personificação da própria crença.

Eu acredito que os fantasmas acreditam que eu também sou fantasma. 

Um fantástico jogo de sombras contrasta, na perfeição, no azul escolhido por Alex Gozblau para retratar o enigmático, o inquietante, o mágico... 

Eu acredito que à noite, para adormecer, os carneiros contam pessoas.

Talvez seja essa inquietude que, ao mesmo tempo que nos impede de fechar o livro, nos recorda Edward GoreyO papel de parede, os cortinados, os móveis austeros, os retratos de parede e até alguns traços fisionómicos do rapaz...


Um livro magnífico, onde é possível acreditar que dentro do escuro há monstros, mas também há fadas. Que os peixes podem nadar até à lua.  Ou até na força do sopro dos gigantes que vivem do outro lado do mundo. 


Nós acreditamos. Em livros que genialmente nos desassossegam!

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