Welcome to Portugal, Mr. David Wiesner! Há muito que esperávamos por si!
Um dos nomes mais conceituados da literatura infantil, o autor americano já venceu por três vezes a prestigiada Caldecott Medal, a primeira das quais em 1992, e arrecadou outras tantas Caldecott Honors. Palmarés apenas ultrapassado por Marcia Brown.
Sem grande alarido, David Wiesner chegou por estes dias às nossas livrarias. Trazido pela Orfeu Negro, Art & Max é o penúltimo livro do autor, numa linha algo diferente do fabuloso Flotsam (só de imagens) que o antecedeu.
Mas nem por isso menos fabuloso! Art & Max é um livro sobre arte. Brilhantemente imaginativo e original, conduz-nos numa alucinante viagem por dentro do processo de criação artística, explorando métodos e técnicas, evidenciando resultados possíveis. A originalidade da obra reside no facto de Weisner nos oferecer a possibilidade de acompanhar o processo de ilustração através da sua própria desconstrução.
O arranque da história coincide com o momento do encontro de Art(ur) e Max, os dois répteis que aqui vemos. Arthur é pintor, aparentemente metódico e disciplinado, um pouco convencido e algo arrogante. Max também quer ser pintor. A arte parece exercer sobre ele um fascínio desmedido e, como todos os principiantes, tem o ímpeto de "meter a mão na massa". Algo voluntarioso como qualquer bom aprendiz, tem determinação q.b..
Mesmo quando Artur aparenta explodir, projectando-se em manchas de tinta que se transformam numa dança de arco-íris aos nossos olhos.
Como se de duas histórias se tratasse, unidas pela forte componente visual, assistimos às reacções de cada um, à medida que o processo de criação vai sendo desmontado, ou se preferirmos, à medida que Art se vai reduzindo. O momento alto do trabalho de Max revela-se na generosidade do copo de água que oferece a Art quando este se sente esquisito e que conduz à diluição de toda a aguarela que ainda o cobria, vendo-se reduzido ao simples traço.
Hilariante é pouco para descrever a série de esforços que Max enceta com vista à reconstrução de Art. A linha que Max segura, para além do que resta daquele, consubstancia agora o fio condutor de toda a história. Quando Max decide refazer o mestre, as surpresas não param mais.
Acrílico, pastel, aguarela... Art vai ficando sem forma. Os esforços são agora inversos. Max necessita recrear Art, e embora já tenhamos percebido que não passa de um amador, a paixão e o instinto irão guiá-lo até ao fim. Até lá, os olhos dos mais pequenos estarão esbugalhados e o riso andará à solta.
De forma notável, ao aparente nonsense da arte de Max, que se confunde com o do próprio livro, e à bizarria resultante de tudo o que aquele faz, Wiesner contrapõe o realismo das expressões faciais e corporais, fazendo-nos esquecer que de répteis se trata num cenário nu de deserto que atravessa todas as páginas.
À semelhança do próprio Max, esta é uma história desconcertantemente contagiante, provocando-nos a todos, pequenos e grandes, o ímpeto de meter mãos à obra. Viva a liberdade de criação!
Numa entrevista que podem ver aqui, David Weisner diz pensar que ambos os seus répteis aprenderam alguma coisa: estar aberto a novas ideias e possibilidades.
Nós estamos! Enquanto pintamos tudo o que encontramos por aqui, tentamos adivinhar quando chegará o seu próximo livro. Obrigada, Orfeu Negro!
Ai, quero tanto! Obrigada por este post fantástico. Definitivamente vocês são os meus conselheiros de livros. Não compro um sem vir ver aqui primeiro. :) Obrigada Hipopómatos.
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