segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Mar... e Bolonha À Vista!








Está quase a começar a Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha que, este ano, tem o Brasil como país convidado. Mas essa não é a única razão para se falar português em Bolonha. Mal os prémios começaram a ser anunciados e, já um navegava até Portugal.

MAR, de Ricardo Henriques e André Letria, numa edição Pato Lógico, foi distinguido com 
uma menção honrosa, na categoria Não Ficção, nos
Bologna Ragazzi Awards. É caso para dizer que Portugal soma e segue... No ano passado, A Ilha (Planeta Tangerina) tinha arrecadado idêntico prémio.
 
MAR é uma espécie híbrida que se define a si mesmo como um actividário (actividades + abecedário). Destinado a um público infanto-juvenil, mas capaz de fazer andar à bolina, horas a fio, qualquer navegador mais experiente. 

Num país que outrora foi de navegadores, "a tripulação" começa por questionar: "Se o nosso planeta tem mais mar que terra, então porque é que não se chama planeta Mar?" A resposta é curial: "Provavelmente já não vamos a tempo de mudar os dicionários e os livros de geografia, mas fica aqui a nossa homenagem a essa grande piscina tão importante para os portugueses, povo de marinheiros e comedores de bacalhau."
Ao longo de 56 páginas, este "dicionário do mar" enumera, de forma inteligente e divertida, centenas de conceitos e expressões que nos reportam ao universo marítimo. 

Nem só de água, peixes, barcostesouros ou piratas vive o MAR... Para quem navega, há muitas outras coisas igualmente importantes, como é o caso da biodiversidade,  da nafta ou da matalotagem. Outras há que não podem nem devem ser ignoradas. Exemplos? Vão lá ver, mas sempre vamos avisando: pensem duas vezes antes de chamar paspalhão a alguém, principalmente se tiver bonasvolhas...
"A alma portuguesa é o fado, tão trágica como um naufrágio", dizem os autores. E porque  fado é muito mais do que bacalhau e sardinhas, não foram esquecidos  poetas, escritores, cientistas ou navegadores.

Dependendo da latitude, podemos encontrar, por exemplo, Sophia de Mello Breyner, Fernando Pessoa, Camões ou Darwin, Afonso de Albuquerque ou Vasco da Gama. E, claro, nenhum MAR estaria completo sem uma referência expressa a essa figura de Moby Dick!
Eureka! Já viram uma alforreca reciclada? Pois ponham a rapaziada com "as mãos na massa" porque as instruções são claras. E quem diz alforrecas, diz  barcos de papel ou oceanos em garrafas.

MAR tem um trabalho notável de ilustração e design, ou não tivesse a assinatura de André Letria! Em Bolonha, o júri pronunciou-se assim: “o design e a ilustração deste livro são o eco perfeito do tema marítimo. Tipografia e imagem estão belissimamente integradas através do uso da bicromia de preto e azul. O artista explora com eficácia os contrastes de escala. Há embarcações minúsculas a enfrentar enormes criaturas marinhas. Faróis que espalham o seu feixe de luz ao longo da página. O universo do mar está retratado em todas as suas dimensões, incluindo factos, personagens e folclore, numa experiência gráfica altamente gratificante.”

Por último,  uma palavra sobre essa "página da indignação"! Pois é, o actividário tem uma lista de palavras "excluídas indignadas" que se insurgem contra o facto de não constarem deste dicionário. E nós, que somos pelo direito à indignação, aproveitamos para nos insurgirmos contra o facto de poder haver  por aí quem ainda não tenha navegado o MAR destes sábios marinheiros. 



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