terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Apologia do Buraco


Gostamos de livros com buracos. De qualquer tamanho. Com ou sem bicho. Bom, também gostamos de buracos com livros. Provavelmente, devemos tudo isso a Peter Newell que, em 1908, se lembrou de escrever O Livro do Buraco. Alheio ao peso moralista que  os supostos livros para crianças transportavam no início daquele século, Newell parecia gostar de brincar com o próprio conceito de livro, fazendo disso uma forma de despertar a curiosidade dos mais pequenos. The Rocket Book, Topsys and Turvys e o Livro Inclinado, editado entre nós pela Orfeu Negro, são outros exemplos disso.

No caso de O Livro do Buraco, o dito fica a dever-se a uma bala disparada, inadvertidamente,  por Tom Potts, um pequeno rapaz. Página a página,  assistimos à sucessão de desastres que a mesma vai provocando ao longo de uma atribulada e hilariante viagem. A irreverência, quer a nível do texto quer das ilustrações, parece ser a palavra de ordem do autor. Volvidos mais de cem anos, a história, que muitos apelidaram de politicamente incorrecta, mantém incólume o sucesso.


 



Uma constante e infinita interrogação sobre as origens do Homem. Assim se poderia definir Et avant, o livro escrito por CharlElie Couture e ilustrado por Serge Bloch. Dele falámos aqui.

As ilustrações de Bloch, de traço minimalista, emergem em torno de um buraco circular existente no centro de cada página. Elemento visual preponderante, vai-se transformando e ajustando a cada momento da história. Ponto de interrogação, sol, balão, boca, ventre materno... 

Simbolizando simultaneamente a passagem para um outro tempo e o próprio meio para voltar às origens, através dele vamos recuando no tempo. 


 




Em Le Trou, na versão inglesa The Hole, de Øyvind Torseter
voltamos a cruzar-nos com um pequeno buraco que atravessa todo o livro.              

Ao mudar-se para um novo apartamento, esta criatura descobre a existência de um buraco, que parece mover-se por todas as dependências da casa... O mistério ocupa-lhe a cabeça e decide pedir ajuda. O laboratório aconselha-o a levar o buraco para análise. Nós, leitores, acompanhamos a hilariante viagem pela cidade...
O desenho minimalista contribui para evidenciar em cada página a existência do buraco.  Uma história  genialmente construída  que,  simultaneamente nos diverte e questiona. 

Este é um tema a que voltaremos. Não por os buracos estarem na moda, mas porque andam por aí outros livros esburacados a que não resistimos...

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