sexta-feira, 31 de maio de 2013

Soy Feliz, no me preocupo



O mundo da criança é hoje habitado por uma infinita legião de preocupações. A proveniência? Um mundo governado por adultos incapazes de evitar o contágio. O livro que escolhemos é de leitura obrigatória para todos os adultos.


Soy feliz, no me preocupo é um fabuloso livro de Jimmy Liao, escritor e ilustrador nascido  em Taiwan, que conta já com cerca de vinte livros editados em variadissímos idiomas e que, infelizmente, continuamos a não ver traduzido entre nós. Do “universo jimmyliano" falaremos nos próximos dias.


À semelhança de todos os outros livros que conhecemos do autor, é um livro fabuloso e único.  O ponto de partida é a memória que guarda de ter sido sempre, ele próprio, uma criança preocupada. A tal ponto que, quando ouvia a sirene de um carro de bombeiros pensava, de imediato, que era a sua casa que estava a arder. Se um professor anunciava que um aluno tinha sido suspenso, não lhe restava a mínima dúvida que era o eleito...  
                                    
 
O autor confessa que, apesar de serem muitas as coisas que o preocupavam,  viria a descobrir que não havia muitas com que valesse a pena preocupar-se. Em contrapartida, quando não se preocupava com nada, o mundo todo se preocupava...



As crianças são de todos os dias, mas porque hoje o Dia é delas... 


terça-feira, 28 de maio de 2013

Mia Couto


Mia Couto foi o vencedor do Prémio Camões 2013 e ninguém pasmou com o acontecimento! Merecido é o adjectivo mais utilizado por todos aqueles que, de alguma forma, se associaram ao prémio recebido pelo escritor moçambicano.


Muitos dizem que é um inventor de palavras. Para nós, será sempre um brincador que, com elevada dose de paixão, reinventa palavras. O blogue Letra Pequena relembra hoje que Mia Couto diz que "não se escreve para crianças. Teremos, apenas, idade para viver em história(...)." 
Os Hipopómatos gostam de pensar que as suas histórias não têm idade e que todos podemos habitá-las. 


O gato e o escuro e O Beijo da Palavrinha são, seguramente, os livros mais conhecidos  do público infantil, mas A Chuva Pasmada  é o livro de Mia Couto que sempre nos vem à cabeça quando pensamos numa história onde todos podem morar uma vez. Ou muitas.


Em entrevista concedida a Sophia Beal em 2005, o escritor dizia: "Acabei agora uma coisa chamada "A Chuva Pasmada". É um livro que começou por ser um livro infantil , mas não gosto dessa maneira de o chamar, e evoluiu para uma outra coisa. Já não é um livro para crianças, é um livro. Só que tem ilustrações. As ilustrações são muito bonitas."



Uma história passada numa aldeia onde a chuva teima em não cair, em que o ciclo da água e o da vida se fundem num só. Uma história sobre gentes, sobre a cultura de um povo, as suas lendas e mitos. Um livro, repetimos nós. Para toda a gente. As bonitas ilustrações, tal como as dos outros dois livros que mencionámos, são da Danuta Wojciechowska. 


Às vezes, a propósito de nada, repetimos  como a tia do rapaz deste livro: 
-Pai nosso, cristais no Céu, santo e ficado seja o vosso nome.


E meditamos sobre o conselho do avô:

Ante o frio,
faz com o coração
o contrário do que fazes com o corpo:
despe-o.
Quanto mais nu, mais ele encontrará
o único agasalho possível
- um outro coração.

Não têm o livro? Aproveitem e dêem um pulo  à Feira do Livro. Ele anda por lá...

quinta-feira, 23 de maio de 2013

SER AMIGO

 "É que hoje fiz um amigo e coisa mais preciosa no mundo não há..." Não resistimos a roubar a frase à canção do Sérgio Godinho depois de ter lido este livro, recentemente editado pela Kalandraka.

 
Para a autora, a italiana Arianna Papini,   SER AMIGO é, entre outras coisas,


SENTIRMO-NOS IGUAIS AINDA QUE SEJAMOS DIFERENTES.


NÃO DARMOS IMPORTÂNCIA À NOSSA APARÊNCIA.


APOIARMO-NOS NOS TEMPOS DIFÍCEIS.


AJUDARMO-NOS UM AO OUTRO.


CONFIARMOS UM NO OUTRO.


CONTARMOS SEGREDOS.


SONHARMOS O MESMO SONHO.


PARTILHARMOS UM LUGAR ESPECIAL.


BRINCARMOS JUNTOS.

Um texto simples, com recurso a letras maiúsculas, coadjuvado por magníficas ilustrações  e onde os protagonistas são animais. Em suma, um álbum que reúne todas as características para se tornar ele próprio um amigo dos pequenos leitores. Até porque não é todos os dias que encontramos peixes e gatos a brincar juntos ou elefantes que confiam em ratos. 
Agora, é só agarrar na  criançada e dar um pulo até à Feira do Livro de Lisboa. Já começou!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Palavras para que vos quero

Peter Pan e a Terra do Nunca foi o mote do 4º Encontro de Literatura Infanto-Juvenil, que decorreu na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto. Os Hipopómatos voaram até lá...
As honras de abertura ficaram por conta de Jorge Silva. Durante mais de uma hora,  o conhecido designer editorial e director de arte dissertou sobre a história da ilustração para a infância em Portugal. É sempre um prazer voltar a ouvir quem sabe tanto!

Tcharan! Lá fora, a banca era de fazer crescer água na boca...
Nem sempre resistimos a puxar a brasa à nossa sardinha, ou melhor, à nossa galinha... Resultado, rapidamente encontrámos os dois livros de  António Mota ilustrados pela nossa Catarina Correia Marques.

A parte da tarde iniciou-se com a inauguração da exposição Peter Pan e a Terra do Nunca, que reuniu originais de 21 ilustradores. O lugar que Peter Pan ocupa, ou não, no imaginário de cada um, foi o ponto de partida para a conversa moderada por Margarida Noronha.
                                                               
                                       Paulo Sérgio Beju                                                Evelina Oliveira
                                                          José Manuel Saraiva                               Anabela Dias
Entre outros, testemunhámos o magnífico momento em que João Fazenda fala do processo de criação do seu Peter Pan que, sem inibições de qualquer tipo, voou até ao colo de José Manuel Saraiva.

José Rosinhas esteve à  conversa com três meninas que não querem crescer. Evelina Oliveira, Marta Madureira e Cristina Valadas falaram da sua formação e respectivos percursos na ilustração infantil.
Adélia Carvalho moderou a conversa com os ilustradores Tiago Manuel, João Fazenda e Paulo Sérgio Beju.
                           
Com muita pena, os Hipopómatos não puderam ficar para Sábado, o dia reservado aos escritores. António Mota, Álvaro Magalhães, Carla Maia de Almeida e Francisco Duarte Mangas foram apenas alguns dos nomes que por lá passaram. 

À porta da biblioteca, havia quem, apesar de não conseguir entrar, não quisesse perder pitada... 
E com toda a razão! Até para o ano.


quinta-feira, 16 de maio de 2013

Palavras para que vos quero

Amanhã e no Sábado, todos os caminhos vão dar ao Porto. A Biblioteca Almeida Garrett é a anfitriã do 4º Encontro de Literatura Infanto-Juvenil Palavras para que vos quero. Consultem o programa aqui.
Os Hipopómatos vão até lá, cheiinhos de vontade de viajar até à Terra do Nunca. Vamos? 

terça-feira, 14 de maio de 2013

Árboles

La modestia de los árboles es infinita.
Cuando la brisa matinal los acaricia,
ellos dejan caer dos hojas tiernas.
Assim começa o poema de Mario Benedetti, ilustrado por Javier Zabala e editado pela editora catalã Libros Del Zorro Rojo. O livro integra a extraordinária colecção infantil intitulada Libros de Cordel, que reúne nomes grandes da Literatura, como Frederico Garcia Lorca, Eduardo Galeano ou Saramago, ilustrados por nomes igualmente conhecidos. 
Alguns têm edição em português, pela mão da Kalandraka e da Caminho.
O poema é uma espécie de ode às árvores, uma reflexão carregada de sensibilidade que parece traduzir-se num desvendar da sua essência e da existência silenciosa que partilham. 
À modéstia junta-se a força com que enfrentam a adversidade do tempo, a paz com que detectan con curiosidad as suas próprias diferenças (porque há árvores de muitos tipos) e recebem os pássaros, hermanos traviesos que les traen noticias de otros frondosos colegas.
Porque é da vida que falamos, há excepções. Às corujas e cegonhas,  do alto dos campanários,  pouco importam as árvores. Perante a indiferença, elas buscam consolo nas suas velhas raízes.
À semelhança dos pássaros, também a maioria dos humanos se dá bem com as árvores, con su sombra protectora, con su frescura.
A excepção, desta feita, são os lenhadores, que por oficio son los asesinos de los árboles y éstos les temen más que al rayo.
Mas esta existência silenciosa, e por vezes resignada,  não é única. É o próprio poeta quem a partilha quando se torna  perceptível que a sua linguagem e a dos pássaros são diferentes.
Pero no lo entiendo porque no conozco el idioma de los pájaros, y no le respondo porque él no conoce el lenguaje de los hombres.
Este é o momento em que a árvore, cuja copa adquire forma humana, se transforma no ser solidário em que o poeta se apoia e revê,  enquanto testemunha silenciosa dessa incomunicabilidade. 
Javier Zabala, de quem já falámos aqui e aqui, é reincidente. As ilustrações do livro de Francisco Garcia Lorca, Santiago, também têm a sua assinatura. Ainda que conhecendo bem o seu trabalho, é impossível não sentirmos um absoluto deslumbre pela forma como transforma o livro num poema a duas vozes.
Mário Benedetti, escritor e poeta uruguaio, morreu em Maio de 2009. Recordem-no com as crianças, ainda que silenciosamente...